18 de dez. de 2021

O Inverno no Verão

Um dia de sol e calor abafado
As árvores se movem preguiçosamente
Apenas os sons distantes do tráfego
Quebram o silêncio da manhã

Mais um dia de sol e calor abafado
Um dia a mais na semana que se arrasta
E que arrastava o ano para um fim tranquilo
Na promessa de um novo porvir 

Justo nesse dia de sol e calor abafado 
Como um braço que se precipita à bola na área
Sem convite nem aceno, desceu o Inverno
Nos últimos segundos da prorrogação

E veio a chuva, e vieram as águas
E não se via mais o sol, não sentia-se Verão
As árvores recolheram-se e o tráfego silenciou
Contemplando o cair de uma última folha

E, de repente, já não havia folhas e nem sol
Restavam apenas os ramos secos e velhos
Moldados pelo tempo e as intempéries 
Cientes de sua longa missão cumprida

No dia de sol e calor abafado
O Verão cedeu ao Inverno indesejável  
Caiu a última folha, caiu a chuva, caíram lágrimas
Caiu o sol, caiu a ficha e caiu o mundo

E os ramos ficaram ali, expostos e frágeis
Moldados pelo tempo e as intempéries 
Aguardando a Primavera para ver uma vez mais
Renascer um novo porvir

9 de mai. de 2020

Verena

In the first verses of the Dhammapada, the Buddha's disciples state what are maybe his most famous verses: "Hatred does not cease by hatred at any time; but only by non-hatred: this is the eternal rule".

We are now living through possibly the hardest period mankind as a whole has experienced since the World War II. A period that might define the years 2020 for centuries to come – unless something even harsher comes at its wake. The Coronavirus pandemic unravelled, like the Pandora Box myth, many shades of emotions that were dormant for years: from compassionate actions by financial hawks to unbelievable displays of contempt for fellow grieving citizens by popular figures. 

Now, this should be a time of union, and in many senses it is: never have so many people stayed locked in their homes at the same time; and never has the global economy been halted for so long. Such is the power of compassion, empathy, and sense of survival. Staying home – experts tell us and experience shows – is the only means we have at this moment to save lives.

Nevertheless, while most of the world is collectively mourning the victims of this plague under a (very important at such times) leadership usually empathetic to the situation of their people, Brazilians are being showered with a constellation of the most insane lunacies from the man whose job was to lead us through this as smoothly as possible. I do not know what agenda lies under this erratic behaviour – though, given the frequency of my posts, I might have an answer in the next entry –, but it is certainly shattering the solidarity that binds our people together. A country widely known for its joyful spirit – a sunshine that many times helped warming up the gloomy seriousness of the Old World – is being showcased internationally as the epicenter of paranoia, negacionism and nationalism. Internally, we, the messengers of samba and happiness, are transforming into the pall-bearers of hate. People who were always kind and generous are now offending others without hesitation: even my grandmother recently wished in a Facebook post that our President would soon go down and meet the Devil in person. I (very) often catch myself counting my breath after reading the news these days, and cannot resist lowering my vocabulary when commenting on them. 

I do not know exactly when all this started, but the recent upheaval in our politics (which culminated in an impeached president) and the ocean of corruption unveiled by then played a central role in that. It is impressive to witness the emotional power of corruption; how it is able to evoke strong responses and stir people up. Narratives also played a major role there, of course: in the blink of an eye, the whole political left became the culprits of the money-laundering scandals and the targets of a tsunami of hate — even though most beneficiaries of the unfolded schemes were old politicians from centre-right parties and big sharks of the construction industry. Eventually, this hatred gained momentum and led to the election of our current president.

Anyway, the rift has been deepening ever since he came to power (January 2019), but it feels like this separation is becoming an insurmountable abyss at an exponential rate recently. Maybe the social isolation is playing a role here: staying at home is psychologically challenging, and it contributes to pushing us deeper and deeper into our own bubbles. As a consequence, bubbles grow larger and move further from each other, and conflicts are strengthened. However, none of this needed to happen now: this should be a time of union! Most leaders have seized this moment to unite their countries and heal old wounds. Our President, instead, keeps sending controversial and hateful messages every single week since the start of the outbreak around here. And, with every single message, a wave of supporters descend to carry around his poison all over the internet. People horrified at his out-worldily remarks become understandably angry, and eventually lash out at his supporters; who then move ahead to defend him furiously. There seems to be no common values shared among them anymore. This, like a huge bowl of fresh dough waiting to be baked, hatred keeps on inflating.

Society is bound together by solidarity: in its absence, we move towards an unruly world – a state of anomie. Hatred, often fomented by misinformation and distrust, is a key ingredient to fuel an anomic state, where society cannot find common values and live in harmony. It seems crystal clear that we are moving in that direction, but where is the limit? Where is (or was?) the point of no return?

"Hatred does not cease by hatred at any time; but only by non-hatred: this is the eternal rule."
This has never been so relevant; and yet, so hard to practise. We could all benefit from some effort here.

#StayHomeStaySafe
🙏

7 de dez. de 2014

Tonight

And tonight the Moon is sad,
Hiding behind a thin mist of tears;
Maybe the new tears of an old love story
Not unlike other millions of love stories,
But unique as only love stories can be.








1 de abr. de 2014

31 de mar. de 2014

Fins

Novas estações e novas faces,
Mais um começo do ciclo sem fim.
Um novo capítulo de um novo tomo
No mesmo livro de folhas em branco,
Vazias como as flores de cerejeira,
Que renascem as árvores mortas
Ao abraço morno do Sol vernal,
Como paixões que despedaçam
Corações empedrados em longos invernos
Ao esbarrar o Amor, por acaso,
Num tropeço de uma caminhada sem rumo.

E as flores desabrocham e caem;
As folhas em branco são escritas,
E todo livro recebe seu último verso.
Mas a árvore se lembra de cada broto,
Conhece o cheiro de cada pétala;
O escritor conhece cada capítulo,
E cada beijo de cada personagem
(Mesmo os jamais realizados.)
Novas estações e novas faces,
Só mais um começo do ciclo sem fim.
Mas o coração, esse nunca esquece.

26 de mar. de 2014

O Velho



“Estamos no ar”
- Alô você!!! A sua Rádio Terapia está no ar. 66,6 mhz de frequência vibratória pelas veias do seu hardware celular. Eu sou Alter Ego, a sua voz do além dial. Hoje vamos receber uma visita nada especial mas pouco bem-vinda, o coveiro das galáxias. Bom dia Dr. Escaravelho!
- Bom dia Alter, bom dia ouvintes.
- Que boas novas o Doutor nos traz, nesta manhã, nem fria, nem quente.
- Nenhuma Alter, na verdade trago uma carta de demissão.
- É... não entendi doutor Escaravelho. Eu não sou seu patrão... (risos)
- Na verdade é uma carta de demissão como um abaixo assinado. São milhões de assinaturas...
- Como assim? Fizeram um abaixo assinado para o senhor pedir demissão? (risos)
- Não Alter, a humanidade está se demitindo.
- Bomba, bomba, ouvintes!!! Daqui a pouco o Doutor Escaravelho explica. Num oferecimento de “Quimioterapia Kardec, não queremos seus cabelos, só seu espírito”, a Rádio Terapia fará um breve intervalo no seu cosmos e voltaremos com o Doutor Escaravelho, o coveiro das galáxias.
“Fora do ar”
 (nona de Beethoven de fundo) “Capitalização Genoma. Invista seus recursos em genes e concorra mensalmente a uma encarnação nórdica e prospera. Não se preocupe, no final do plano você recebe tudo o que investiu com valores corrigidos. Genoma não é uma aposta, é a resposta”.
(Como é grande o meu amor por você, Roberto Carlos de fundo) “Funerária Vida Nova, jazigos verticais, mobiliados com tudo que seu ente querido vai precisar depois da vida. Temos planos exclusivos para aposentados e pensionistas, descontados diretamente de seus benefícios”
“Estamos no ar”
- Alo você!!! Voltamos com o Doutor Escaravelho, o coveiro das galáxias que estava nos falando sobre... (interrupção)
- Não temos muito tempo, Alter, preciso passar a mensagem que me trouxe aqui. Seu microfone está cortado a partir de agora.
- Você que está me ouvindo e você que não está, (não importa, na verdade) estou aqui para comunicar sua demissão da sua vida, que aliás, você mesmo assinou e certamente nem lembra mais.
- Há milhões de anos, quando você ainda era uma bactéria inóspita, foi combinado que habitaria neste planeta, reproduzindo e transformando seu habitat. Quando já tinha condições de raciocinar, portanto podendo decidir, combinamos que se demitiria da sua existência humana se, por intervenção sua, individual ou coletivamente, o habitat fosse esculhambado, desrespeitado ou estupidamente deteriorado.
- Enfim, isso tudo já aconteceu e está acontecendo novamente. O Velho já encharcou o planeta no grande dilúvio, recomeçamos do zero e não adiantou. Sua natureza, ser humano, é má. Não tem jeito, você é incorrigível.
- Recebi esse memorando ontem, o que na conta Dele é há mil anos, determinando usar a vossa carta de demissão, com um adendo; que eu lesse o memorando no ar, não ele todo mas a parte que fala a vocês. Então, vamos acabar logo com isso, tenho um trabalho absurdo pra fazer. Vamos lá:

“Diga isso aos meus filhos:
Como vocês envelheceram... O que é uma contradição, infelizmente. Tiveram tantas oportunidades... Criaram máquinas perfeitas, extraordinárias. Imitaram-se na expectativa de imitarem seu Criador. Dividiram o espaço que era comum em continentes, países, estados, cidades, vilas, bairros, vilarejos, ruas, casas, cômodos... Tudo isso pra inverterem o que havíamos combinado, ou seja, compartilharem-se. Alguns “iguais”, criaram seitas na esperança de se religarem a Mim. Das seitas criaram dogmas, doutrinas e destas inverteram o princípio básico da comunhão, o “somos todos um” se tornou “somos todos um, pero no mucho”. Diferentes, é isso o que conseguiram se tornar. Diferentes e indiferentes e diziam como lema: Cada um por si e Deus por todos. – “Opa, me coloquem fora disto”, eu vivia dizendo. Vocês nunca prestaram atenção. Nunca me ouviam e sempre tiveram “ouvidos de ouvir”. Paciência é um de meus atributos, Me glorifiquem por isso. Toda sentença tem um ponto final, as minhas reticencias já se esgotaram, apesar dos apelos do meu Filho. Hoje é o dia do Ponto Final. Verdadeiramente voltaremos a ser Um, mas preciso confessar uma coisa, (se é que “precise” qualquer coisa) foi bom ter me experimentado em vocês. Isso mesmo. O tempo todo, em todas as situações que vocês criaram, era Eu me experimentando. Quando inventaram a pólvora, era Eu querendo me divertir, não tinha ideia que a usaria de maneiras tão estupidas, mas também era Eu, experimentando seu mal, que também era Eu, para que houvesse o bem. Não saberia amor senão houvesse ódio. Experimentei-os em vocês. Preciso agradecer por isso. Na escuridão, Eu era luz e vice-versa. Como já disse tantas vezes, apesar de vossa surdes, Eu Sou. E ponto final.”
“Fora do Ar”

Em breve.



Estavam Deus e seu filho esperando o eterno
Choques galácticos, expansões cósmicas, luz
Em todos os momentos, ausentes de sentidos,
Senhores do tempo, comandavam o início e o fim

Chama o Pai "Ó meu Filho cheio de amor fraterno
Venha observar o que o céu infinito reluz"
Responde o Filho altivo tal qual Deus de estudos
"Cá Estou senhor Pai eterno, que desejas de mim?"

"De toda criação há algo que lhe escondi
No tempo eterno e imortal que temos
Tudo é tão rápido que até nós perdemos
Momentos de beleza e tristeza sutis

Em breve minha maior criação surgirá
Tão breve enfim ela irá desabar
Mas mesmo tão curta ela sim haverá
De me dar tanto orgulho de tudo criar

Pois tudo, até agora
É momento de outrora
É reflexo da aurora
Do que está por vir

A partir deste instante
Nada é mais importante
Nada mais significante
Do que vem no horizonte

um segundo só
um momento
e todo um sentimento se faz presente

uma vida só
um ente
e toda eternidade lhe será presente".

E disse Deus:
"Faça-se a música!"
E fez-se deus.






G. T. Ramos (2014)