Na estrada. O verão aparentemente já deu seus últimos suspiros, e já dá pra sentir as manhãs frias de outono.
A natureza de Tohoku é realmente incrível. A estrada corta pelo meio de pequenos montes, cobertos por árvores altíssimas e de poucos ramos e por pinheiros. O cenário se alterna com algumas poucas planícies, com plantações de arroz e algumas casas de madeira de estilo tradicional. A cada 20 ou 30 minutos, uma cidadezinha.
Passei a última semana em Kesennuma, na província de Miyagi. Kesennuma é uma cidade costeira, a segunda mais afetada pelo Grande Terremoto do Leste do Japão, depois de Ishinomaki. Ao contrário desta, Kesennuma é muito menor (tem uma população entre 7000 e 8000) e não é um spot turístico. Estive com um grupo de estudantes voluntários para a recuperação da região; grupo organizado e bancado pela Fundação Japão (Nippon Zaidan), chamado "Gakuvo" (uma abreviação pra Gakusei volunteer, estudante-voluntário). Essa foi a terceira vez que participei de uma missão dessas, e foi a mais longa e pesada; e a cada vez que participo delas me surpreendo mais com os japoneses.
Existe um certo tabu que é difícil fazer amizade com os japoneses, que são pessoas fechadas e duras, mas não é bem assim sempre. Nosso grupo tem 28 pessoas, 8 ryuugakusei (alunos estrangeiros) e 20 japoneses, desde Fukuoka e Nara até Tokyo; tivemos oportunidade de conversar bastante e conhecer melhor uns aos outros. Na frieza e na correria de Tokyo, é normal achar que os japoneses são pessoas frias e talvez até egoístas, e esses momentos são importantes para conhecermos outros lados deles.
Uma das meninas trabalhando conosco trabalha no Outback (restaurante australiano) em Shibuya (bairro de Tokyo), onde fui com amigos brasileiros comemorar o aniversário de um deles. Imagino quantas pessoas não passam diante de nossos olhos, interagem conosco, e nós muitas vezes nem percebemos; passam como sombras, como meros objetos inanimados que não nos desperta atenção - já que normalmente estamos mais concentrados em nossos próprios pensamentos e nossa própria vida.
Outro dos meninos estuda na Shibaura Kogyo Daigaku (Universidade Tecnológica de Shibaura), no bairro onde eu moro. No nosso último dia de trabalho, ficamos em times diferentes: fui preparar sacos de pedra ("âncoras"), enquanto o time dele ficou responsável por remover janelas de uma casa vizinha à qual estávamos hospedados e fazer as compras para o churrasco de despedida. Ele se sentiu mal por ter feito um trabalho leve enquanto nos esgarçávamos carregando sacos de pedras, e - por isso - deixou todos tomarem banho antes dele. É apenas um pequeno gesto, mas é nesses pequenos gestos que se vê o caráter de alguém.
Dentre várias coisas, duas me impressionaram mais: no primeiro dia de trabalho, fomos recolher e separar destroços de um lugar que, outrora, era uma casa. Enquanto limpávamos o mato que, após todos esses meses, cobrira o local, tentávamos advinhar que parte da casa era cada canto do terreno. Mais tarde, um dos ryuugakusei, da Malásia, comentou: "nós tentávamos imaginar mas, com certeza, quem morava lá não veria aquilo como um monte de mato e destroços, mas como uma sala, um quarto; veria como uma coleção de memórias - uma vida." E, realmente, a cada sapato, cada brinquedo que encontrávamos pela frente, podíamos imaginar quantas lembranças não viveriam neles.
Outra coisa que me chamou a atenção, no segundo dia de trabalho, fui com um time para preparar sacos de pedra. Fomos para uma espécie de porto e trabalhamos com pescadores, todos já acima dos 60. Um deles, já nos seus 70 e poucos, estava lá carregando sacos de 55 kg com muito mais desenvoltura que nós estudantes. Em um dos intervalos de trabalho, um dos pescadores veio conversar comigo. Falou por mais de 5 minutos, dos quais mal-e-mal entendi o assunto. Ele falava de como o Brasil é um país rico e maravilhoso e de como os japoneses são inteligentes por terem ido se estabelecer por la. Acho que, realmente, somos abençoados, né?
Bom, é isso. Primeira parada da viagem de volta.
お疲れ様です!
27 de set. de 2011
19 de set. de 2011
Silent Hills
The desperate and lazy cicada songs echoed across the valley. After a heavy rain, dark clouds gave place to a beautiful dark blue sky. Meanwhile, the master - in a low voice and portraying a shy smile - formally started the 3 days zazen retreat.
The master, mr. Wolfram, is a middle age german guy. He has kind blue eyes, short hair and a thin face, that reminds a little of my father. His calm manners and somehow clumsy ways of dealing with the master robes reflect his pure practicing heart. He's a really nice guy. :)
Once again, rain started to fall heavily, making that delicious "washing your head out" sound inside the zendo. It was the perfect atmosphere to begin a journey throughout oneself's mind (or lack thereof).
The days began early, at 4:30, with a noisy wake up call followed by a sleepy 45 minutes zazen; during which the sky gradually turned clear again, and nature woke up. Mr. Kitamori, the temple's keeper, went at 6:00 to ring the big bell, while listening to the morning news in his old battery radio. (Reminds me of my granpa, who always wakes up at 5:00 and listen to the same radio program in the same old radio, for 30 years so far.) The bell echoes through the valley, far far away, and inside our heads for a long time.
The retreat went on calmly, as the master. Despite all the nature and environment around, the walls are the same as everywhere. Also the wild thoughts and painful legs. Somewhere in the lectures the question arised: how is zazen different from doing sports? "Zazen is not pleasant", was my first thought on this. And, in fact, it is not pleasant at all. But, if it is not pleasant why do we do it? This was another question raised in the discussion. "We're damn masochists!" :)
The struggling went on for the three days, broken by the delicious oriyoki meal times. Mr. Kitamura, who also cooked for us, is an old, short, bald japanese guy. He is not formally a monk, but working there for years gave him a sort of "enlightened" look. Apart from working at the temple, he runs a restaurant in Tokyo (which, by the way, I need to look for!), and makes delicious veggie dishes! I ate some things I have absolutely no idea of what were! I wish I could learn from him. :)))
We had no cerimonies, no chanting (except for oriyoki time) and no dokusan (interview with the master): it was a very informal and relaxed retreat, focused on zazen practices and lectures. Although I think cerimonies and chanting are an important part of training, the sesshin duties and timetable were very well organized and we had just the enough amount of everything!
The lectures where centered on Dogen's Shobogenzo. I'll close with one of my favorite and struggling quotes, from a chapter called Genjo koan (something like "realizing the fundamental point"):
"To study the Buddha Way is to study the self. To study the self is to forget the self. To forget the self is to be realized by everything. When realized by everything, your body and mind as well as the bodies and minds of others drop away. No trace of enlightenment remains, and this no-trace continues endlessly."
:)
The master, mr. Wolfram, is a middle age german guy. He has kind blue eyes, short hair and a thin face, that reminds a little of my father. His calm manners and somehow clumsy ways of dealing with the master robes reflect his pure practicing heart. He's a really nice guy. :)
Once again, rain started to fall heavily, making that delicious "washing your head out" sound inside the zendo. It was the perfect atmosphere to begin a journey throughout oneself's mind (or lack thereof).
The days began early, at 4:30, with a noisy wake up call followed by a sleepy 45 minutes zazen; during which the sky gradually turned clear again, and nature woke up. Mr. Kitamori, the temple's keeper, went at 6:00 to ring the big bell, while listening to the morning news in his old battery radio. (Reminds me of my granpa, who always wakes up at 5:00 and listen to the same radio program in the same old radio, for 30 years so far.) The bell echoes through the valley, far far away, and inside our heads for a long time.
The retreat went on calmly, as the master. Despite all the nature and environment around, the walls are the same as everywhere. Also the wild thoughts and painful legs. Somewhere in the lectures the question arised: how is zazen different from doing sports? "Zazen is not pleasant", was my first thought on this. And, in fact, it is not pleasant at all. But, if it is not pleasant why do we do it? This was another question raised in the discussion. "We're damn masochists!" :)
The struggling went on for the three days, broken by the delicious oriyoki meal times. Mr. Kitamura, who also cooked for us, is an old, short, bald japanese guy. He is not formally a monk, but working there for years gave him a sort of "enlightened" look. Apart from working at the temple, he runs a restaurant in Tokyo (which, by the way, I need to look for!), and makes delicious veggie dishes! I ate some things I have absolutely no idea of what were! I wish I could learn from him. :)))
We had no cerimonies, no chanting (except for oriyoki time) and no dokusan (interview with the master): it was a very informal and relaxed retreat, focused on zazen practices and lectures. Although I think cerimonies and chanting are an important part of training, the sesshin duties and timetable were very well organized and we had just the enough amount of everything!
The lectures where centered on Dogen's Shobogenzo. I'll close with one of my favorite and struggling quotes, from a chapter called Genjo koan (something like "realizing the fundamental point"):
"To study the Buddha Way is to study the self. To study the self is to forget the self. To forget the self is to be realized by everything. When realized by everything, your body and mind as well as the bodies and minds of others drop away. No trace of enlightenment remains, and this no-trace continues endlessly."
:)
12 de set. de 2011
Flowing
Up in the starry sky
Clouds go by in a rush.
Where did they come from?
Where are they going to?
The wind blows sneakily.
Clouds go by in a rush.
Where did they come from?
Where are they going to?
The wind blows sneakily.
6 de set. de 2011
夏夜
Sob o brilho dourado da Lua
O gato salta com elegância sobre o pobre rato
Até que ambos fundem-se no céu
E, como todas as coisas,
Esvaecem lentamente até desaparecer
Na escuridão da noite de verão.
O gato salta com elegância sobre o pobre rato
Até que ambos fundem-se no céu
E, como todas as coisas,
Esvaecem lentamente até desaparecer
Na escuridão da noite de verão.
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