19 de mar. de 2014

κόσμος

(Via Lactea, vista da Terra)

"Verily at the first Chaos came to be, but next wide-bosomed Earth, the ever-sure foundations of all the deathless ones who hold the peaks of snowy Olympus, and dim Tartarus in the depth of the wide-pathed Earth, and Eros (Love), fairest among the deathless gods, who unnerves the limbs and overcomes the mind and wise counsels of all gods and all men within them. From Chaos came forth Erebus and black Night; but of Night were born Aether and Day, whom she conceived and bare from union in love with Erebus. And Earth first bare starry Heaven, equal to herself, to cover her on every side, and to be an ever-sure abiding-place for the blessed gods. And she brought forth long Hills, graceful haunts of the goddess-Nymphs who dwell amongst the glens of the hills. She bare also the fruitless deep with his raging swell, Pontus, without sweet union of love. But afterwards she lay with Heaven and bare deep-swirling Oceanus, Coeus and Crius and Hyperion and Iapetus, Theia and Rhea, Themis and Mnemosyne and gold-crowned Phoebe and lovely Tethys. After them was born Cronos the wily, youngest and most terrible of her children, and he hated his lusty sire." (Hesíodo) [1]

--

E eis que foi o Caos,
naquilo que ainda não Era.
E, num infinitésimo de segundo,

do Caos fez-se o Cosmos:
fez-se a Ordem majestática,
o fino Equilíbrio entre o Tudo e o Nada.

E foram os primeiros passos, violentos,
do ballet da nova Vida:
O tango compassado dos quarks,
grudando-se como casais em fogo,
devidamente unidos e sacramentados
pelas excêntricas Partículas de Deus.


E pôde o Universo então comungar
e os Deuses puderam surgir,
como movimentos de uma sinfonia

executada por uma orquestra auto-conduzida,
deliciando-se em cada pequena nota,
gozando cada um dos Versos (de muitos versos)

E na Ordem surgiu a Luz,
que viaja, tal caixeiro errante,

por mundos que ainda não São
e por mundos que já Foram,
levando memórias de uma Eternidade
Que jamais compreenderemos.


Pouco a pouco o tango virou bossa
e aos acordes menores da balada doce,
o Verso desabrochou em romance fervente:

quarks e léptons se entrelaçavam,
e a Vida explodia em novas formas,
Bailando e girando, e vibrando e brilhando.

E a bossa virou samba:
as novas Criaturas uniam-se, em êxtase,
em grandes enxames de poeira cósmica
cada qual sambando seu próprio enredo.
Dessa celebração da vida, nasciam,
ejaculadas do seio de Hera, as galáxias.


E desse Carnaval cósmico
nasceram os foliões, os cruzados da Luz
a iluminar e aquecer aquela escuridão fria;
Nasceram as estrelas, e, de sua poeira,

surgiram planetas, asteroides,
e tudo mais de opaco que perambula os Céus.

Surgiram hidrogênio, hélio,
lítio, carbono, ferro, e toda sorte de matéria:
Do fogo ensandecido daqueles foliões,
formou-se cada pedacinho ínfimo,

cada pequena parte que constitui
do grosso vulcão à delicada rosa.

Como respingos do fértil seio de Hera,
desenvolveu-se o Verso, em toda sua riqueza;
do sorriso singelo de um bebê
à ferocidade de uma supernova em exaustão,
somos todos parte de um eterno infinito;
de um eterno infinito que é parte de nós.

--
[1] Hesíodo. Theogonia. Tradução de Hugh G. Evelyn-White (1914). ll. 116-138. Disponível em: http://www.sacred-texts.com/cla/hesiod/theogony.htm. Acessado em 16 de março de 2014. (100 anos!)

3 comentários:

  1. Muito bom, sabia que iria ler algo parecido com o que escreveu. Perfeito.

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  2. Adorei a relação, ritmo musical e universo. Muito criativo!

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