12 de jun. de 2010

Não me abandone

Não me abandone
Esqueça o que passou
Tudo que já ficou pra trás
Pode ser esquecido
Podemos esquecer
Dos mal-entendidos
E todo o tempo perdido
Em tentar saber como
Esquecer dos momentos
Que por várias vezes matam,
A golpes de "por quês,"
O coração da felicidade
Não me abandone
Não me abandone
Não me abandone
Não me abandone...

Eu-eu te oferecerei
Pérolas de chuva
Vindas de países
Em que não chove mais;
Escavarei a terra
Até depois da minha morte
Só para cobrir teu corpo
De ouro e brilhantes
Eu erguerei um reino
Onde o amor será o rei
Onde o amor será a lei
E você será a rainha
Não me abandone
Não me abandone
Não me abandone
Não me abandone...

Não me abandone
E eu te inventarei
As palavras mais loucas
Que só você vai entender
Eu te falarei daqueles amantes
Que viram uma segunda vez
Seus corações embrasarem-se
E te contarei
A história daquele rei
Que morreu por nunca
Conseguir te encontrar
Não me abandone
Não me abandone
Não me abandone
Não me abandone...

Quantas vezes já vimos
Reacender o fogo
De vulcões antigos
Que achávamos que eram velhos demais
E há quem conte
De terras queimadas
Que produzem mais trigo
Que a melhor das primaveras
E quando chega a noite
Para que o céu se inflame
O vermelho e o preto
Não se misturam?
Não me abandone
Não me abandone
Não me abandone
Não me abandone...

Não me abandone
Eu não vou mais chorar
Não vou mais falar
Ficarei ali calado
A te observar
Dançar e sorrir
E a te escutar
Cantar e gargalhar
Deixe-me tornar
A sombra da tua sombra
A sombra da tua mão
A sombra do teu cão
Não me abandone
Não me abandone
Não me abandone
Não me abandone...

(Jacques Brel)


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