21 de ago. de 2012

Sonetagem



Uma pequeníssima e sucinta amostragem dos sonetos brasileiros (e Camões, pela ausência de poetas brasileiros em nosso primeiro século) ao longo de nossa jovem existência.



~ Século XVI ~

Soneto II 
(Luís de Camões, Lisboa - 1524-1580)


Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.

Farei que Amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia, e pena, ausente.

Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.

Porém para cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa,
Aqui falta saber, engenho, e arte.




Século XVII ~

Buscando a Cristo 
(Gregório de Matos "boca do Inferno", Salvador - 1636-1695)

A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos 
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.

A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.

A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me

A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.




Século XVIII ~


Soneto XCVIII 
(Cláudio Manuel da Costa, Mariana (MG) - 1729-1789)

Destes penhascos fez a natureza 
O berço, em que nasci! oh quem cuidara, 
Que entre penhas tão duras se criara 
Uma alma terna, um peito sem dureza!

Amor, que vence os tigres por empresa
Tomou logo render-me; ele declara 
Contra o meu coração guerra tão rara,
Que não me foi bastante a fortaleza.

Por mais que eu mesmo conhecesse o dano, 
A que dava ocasião minha brandura, 
Nunca pude fugir ao cego engano:

Vós, que ostentais a condição mais dura,
Temei, penhas, temei; que Amor tirano, 
Onde há mais resistência, mais se apura.




Século XIX ~

Ingratos 
(Pedro II do Brasil, o Magnânimo; Rio de Janeiro - 1825-1891)

Não maldigo o rigor da iníqua sorte,
Por mais atroz que fosse e sem piedade,
Arrancando-me o trono e a majestade,
Quando a dous passos só estou da morte.

Do jogo das paixões minha alma forte
Conhece bem a estulta variedade,
Que hoje nos dá contínua felicidade
E amanhã nem — um bem que nos conforte.

Mas a dor que excrucia e que maltrata,
A dor cruel que o ânimo deplora,
Que fere o coração e pronto mata,

É ver na mão cuspir a extrema hora
A mesma boca aduladora e ingrata,
Que tantos beijos nela pôs — outrora.



Século XIX / XX~

A um poeta 
(Olavo Bilac, príncipe dos poetas Brasileiros; Rio de Janeiro - 1865-1918)


Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima , e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço: e trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego

Não se mostre na fábrica o suplicio
Do mestre. E natural, o efeito agrade
Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.



Século XX ~

Confronto
(Carlos Drummond de Andrade, Itabira (MG) - 1902-1987)


Bateu Amor à porta da Loucura.
"Deixa-me entrar - pediu - sou teu irmão.
Só tu me limparás da lama escura
a que me conduziu minha paixão."

A Loucura desdenha recebê-lo,
sabendo quanto Amor vive de engano,
mas estarrece de surpresa ao vê-lo,
de humano que era, assim tão inumano.

E exclama: "Entra correndo, o pouso é teu.
Mais que ninguém mereces habitar
minha casa infernal, feita de breu,

enquanto me retiro, sem destino,
pois não sei de mais triste desatino
que este mal sem perdão, o mal de amar."



Século XX / XXI ~

Soneto
(Chico Buarque, Rio de Janeiro - 1944-)


Por que me descobriste no abandono
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono

Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo

Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar, com que navio
E me deixaste só, com que saída

Por que desceste ao meu porão sombrio
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio









15 de ago. de 2012

Hasta las Estrellas

Y cuanto a mi, me gustaría
Subir contigo hasta las estrellas:
Volar en las alas de Pegaso,
Y bailar por el infinito.

Me gustaría bucear en tus galaxias
Navegar tu intimo, en una profusión
De tormentas de rayos gamma,
Rayos X, UV, electrones, neutrinos,
Y todo más a que tendríamos derecho.

Ah, ¡cómo me gustaría
Subir contigo hasta las estrellas!
(Pero mis pies no saben dejar el suelo.)

12 de ago. de 2012

5 de ago. de 2012


Quando o homem olha para os céus e não se sente maravilhado; 
Não se sente especial, sortudo, parte desse todo enorme que o rodeia,
Há algo de muito errado com ele.