2 de dez. de 2012

Além

Caminhamos
Seguindo passos já trilhados.
Aventuramo-nos por vias outrora percorridas
E, mesmo assim,
Somos capazes de chegar mais longe.
Longe, longe - cada vez mais longe.
Até onde? Não há limites:
O mundo é vasto demais,
E a vida, curta demais.
(Não desperdice tempo.)

Big blue eyes

Big blue eyes and a bald head:
A broken heart struggling to be mended.
There are some things we will never understand.
(There are some things that will never fade away.)
Big blue eyes, a bald head
And a broken heart overflowing love.
A broken heart full of love!
(Somehow, in Life's mysterious ways,
Some packages have to be completely torn apart
To fully reveal the gifts they hide inside.)

Crystal angels

Tiny little flocks fall from the sky:
It's the first snow of the year.
"Are you ready?"
As I reply affirmatively,
A host of angels rush after me.
Suddenly Ryokan comes to my mind
And in that very moment
I can grasp the extent
Of his immeasurable foolishness;
Of his boundless Enlightenment.
As clear as snow
And as warm as my heart.






21 de nov. de 2012

Ctrl + Z

The evanescent, erasable
Disposable brushes of the pencil.
Words written and rewritten.
Maybe we invented it from our deepest desire
Of erasing, control-zeeing, our misdeeds
And rewriting them anew.
The old Romantic dream
Of perfecting every word and sentence.
If only life, too, had an eraser!
Everything and everyone could be perfect:
Words could be unsaid,
Arrows unthrown,
And lives could be unlived.
Everything would be perfect!
Or would it?

Ah, the Photoshop-life dream!
We waste so much of our lives
In the retelling.

3 a.m.

Sirens scream outside, far away.
Maybe another conscience going by?
Life comes and goes all the time
For what in this world never dies?

The wind blows gently, while crickets sing.
It is but a quiet Autumnal night.
Under the weak light of my lantern,
I (insomniac) decide to pour down some verses.
But, then again, what's the use of words,
When we have this warm, all-embracing silence?

민수

A cold Autumn Saturday.
Under the red trees,
The entire world shines warmly
Through that curious pair
Of kind little eyes.

(Will I ever see them again?)

The Mirror

How many letters were never written?
How many words never said?
How many lives never lived?
So many things I have already said and done
So many lives I have already lived:
Where have they gone?

Ah,
It all gets lost in the bottomless pool of time:
All my great monologues,
All my discussions, my relationships;
All my brilliant plans to end world hunger.
All my inventions, all my careers.
My promising futures:
All gone. For good.
The only thing that remains is now.
(And even that has just gone by.)

20 de out. de 2012

Vovó

In silence,
Sitting by the old little pond
I pour over some Ryokan verses
As arrows fly nearby
I let myself by drained
By the savvy mosquitoes
While memories of you
Keep rushing in
Our last goodbye was full of grief
And your eyes were tearful.

Carps dance quietly in front of me
As quietly and swiftly as time goes by
As fast and irreversibly as life flows by
Though I shall never see your eyes again
They become very much alive
Every time I check the mirror.

In silence,
Sitting by the old little pond
I can see you everywhere.

Lonely?

Lonely?
Maybe a little bit
Maybe a little bit, when lovers pass by
Or when little kids run in tears
After stepping in sharp stones
Or losing their flying balloons.
Maybe a little bit lonely,
When families and friends get together
Under a beautiful reddening tree
To sing, laugh and drink
As if there is no tomorrow,
While time flies by so fast
And, soon, the Sun sets.

Lonely?
Maybe a little bit
A little bit that completely fades away
At the sight of those open smiles
The bright, joyful, innocent eyes
And the sweet sound of their happinesses.
For loneliness melts at these little pieces
Of the vast, boundless, infinite and sacred Love
That, through its own mysterious ways,
Through its unknown and incomprehensible ways,
Sews every little piece of us,
Each and every single one of us,
Together.

Lonely?
Maybe a little bit,
With all the other beings
Throughout the zillion Universes.

Dancing, dancing

Dancing, dancing
To the arrhythmic compass
Of western percussion and old strings:
An unlikely and unexpectedly good medley

Dancing, dancing
To the sounds of laughs and barking,
To the distant jetflow of the fountain
And the wary cries of the crows

Dancing, dancing
To no rhythm at all:
The unsaid, silent and ever-present
No-rhythmic rhymes of Nature

Dancing, dancing
Beautifully and uniquely dancing
Shyly and clumsily moving
Simply following the stream of life.

Vermelhando

Entre a harpa e o koto,
Folhas vermelhas e balões perdidos,
O sol se põe com gentileza
Enquanto uma brisa fria sopra.
Sob a batida de tambores descompassados
E um rockabilly niponizado,
A vida passa devagar
Como um dia qualquer de Outono.

--


代々木公園 (Parque das Laranjeiras)

13 de out. de 2012

Quem?

"Once when Jesus was praying alone and his disciples were with him, he asked them:

- Who do the crowds say I am?

They replied:

- Some say John the Baptist; others say Elijah; and still others, that one of the prophets of long ago has come back to life.

- But what about you?, Jesus asked them back, 'Who do you say I am?" (Lk 9:18-20) 



"Who do you say I am?"

30 de set. de 2012

Tufando

Em casa, o silêncio solitário
É quebrado apenas pelos gritos agudos do vendaval
E a violenta dança das árvores a segui-lo.
A chuva chega em golpes surdos chacoalhando as janelas.
Ah, o desconforto da vulnerabilidade!
Hoje, a noite é de Lua cheia
Mas, lá fora, apenas escuridão.




29 de set. de 2012

Seijo Museum of Modern Art

After sitting with the old priest
I meet up a random master
The round moon smiles high above
The first moon of Autumn
Though a cold breeze blows outside,
I suddenly feel so warm!




両祖忌*

Bowing to the ancient masters
From old times,
The full moon rising up in the sky
Points to the root.
The eternal peace
And the pure mountain
Pass on the precious jewel
That shines restlessly
In this everlasting
Impermanent
World.




--
* Ryōsoki (Mourning of the two patriarchs): September 29th holds the celebration of the passing of the two founding patriarchs of the Soto Zen tradition in Japan, Zen Masters Eihei Dōgen (永平道元, d. 1253) and Keizan Jōkin (瑩山紹瑾, d. 1325). Dōgen`s last poem, written shortly before his death:

Fifty-four years lighting up the sky.
A quivering leap smashes a billion worlds.
Hah!
Entire body looks for nothing.
Living, I plunge into Yellow Springs

**

Ryōsoki (Relebrando os dois patriarcas): No dia 29 de setembro celebra-se o falecimento dos dois patriarcas fundadores da tradição Soto Zen no Japão, os Mestres de Meditação Eihei Dōgen (永平道元, f. 1253) e Keizan Jōkin (瑩山紹瑾, f. 1325). Eis o último poema de Dōgen, escrito pouco antes de seu falecimento:

Cinquenta e quatro anos iluminando o céu.
Um salto exitante esmaga bilhões de mundos.
Há!
O corpo todo não procura mais nada.
Vivo, lanço-me às Termas Amarelas.

25 de set. de 2012

Sílabas!

Os alfabetos silábicos do Japonês - com 46 símbolos cada* - nem sempre foram ensinados da forma como é feito hoje em dia, através de um painel silábico 5 vogais por 10 consoantes inspirado no sânscrito. Em meados do Período Heian (794-1179), por exemplo, surgiu o poema "Iroha" - supostamente escrito pelo grande monge budista Kuukai (空海)**-, composto usando todas as sílabas do alfabeto (um pantograma, portanto) apenas uma única vez, sem repetição. Ei-lo***:


いろはにほへと ちりぬるを
わかよたれそ つねならむ
うゐのおくやま けふこえて
あさきゆめみし ゑひもせす
Na versão contendo ideogramas:

色はにほへど 散りぬるを
我が世たれぞ 常ならむ
有為の奥山 今日越えて
浅き夢見じ 酔ひもせず


Segundo tradução do professor Ryuichi Abe:

Ainda que seu odor continue presente, a forma da flor já se foi
Para quem iria a glória do mundo permanecer imutável?
Ao tocar hoje o outro lado das profundas montanhas da existência evanescente,
Não devemos permitir-nos vagar, intoxicados, num mundo de sonhos rasos.    

Um outro pantograma, datado do século IX, é o ametsuchi no uta (天地の歌, canção do céu e da terra). Apesar de supostamente mais antigo que o poema anterior, sua estrutura é bem mais simples (ideogramas nos parênteses):


あめ つち ほし そら (天地星空)
やま かは みね たに (山川峰谷)
くも きり むろ こけ (雲霧室苔)
ひと いぬ うへ すゑ (人犬上末)
ゆわ さる おふせよ (硫黄猿生ふせよ)
えの枝を なれゐて (榎の枝を慣れ居て)


O Universo e a Terra, o céu estrelado;
Montanhas e rios, picos e vales;
Nuvens e neblina, quarto e limo;
Gente e cachorros, o topo do topo.
Enxofre, macaco, cresça!
Acostumo-me com os ramos de Enoki.


Apesar de extremamente simples, o poema contempla cinco temas - um em cada linha: Primavera, Verão, Outono, Inverno, memórias e paixão; e seu conteúdo é frequentemente utilizado como temática de haikus.


Vale notar a versatilidade que a construção silábica do Japonês permite ao idioma, especialmente quando se considera nessa mistura a capacidade de expressar ideias completas com o uso de um único símbolo através dos ideogramas. Um pantograma em Português, por exemplo, é bem menos poético: "Luís argüia à Júlia que «brações, fé, chá, óxido, pôr, zângão» eram palavras do português."

Talvez poderíamos pensar numa poesia pantogramática em sílabas? Hmm. Fica o desafio. :)

A título de curiosidade, os Chineses também têm suas versões de pantogramas (por incrível que pareça!). Um deles é o Qiān zì wén (千字文, clássico dos mil caracteres) e - como o nome sugere - é composto por mil ideogramas (hanzi, 漢字) sem repetir um sequer. Estruturado em 250 frases de 4 ideogramas cada, essa enorme obra escrita por Zhou Xingsi por volta do século V é utilizada até hoje para ensinar os jovens chinesinhos (e os 白鬼 aventureiros) a aprenderem seu idioma. Aos interessados, fica a dica! 加油!頑張れ! 



--

* No poema, são 47. Os caracteres ゑ (we) e ゐ (wi) caíram em desuso, aparecendo apenas em textos mais antigos; e surgiu o caractere ん, que não aparece no poema original (mas normalmente é recitado após a ultima sílaba). O silabário moderno é composto por 48 caracteres (mais 4 marcadores funcionais) escritos em dois tipos de alfabeto: hiragana (平仮名, alfabeto comum) ou katakana (片仮名, alfabeto fragmentado). Ambos são usados para reproduzir os 109 sons do Japonês moderno. Além do hiragana e do katakana, a língua Japonesa também faz uso de ideogramas (ou kanji, 漢字, símbolos com significado per se, ao contrário dos caracteres puramente sonoros dos dois sistemas silábicos) e de letras romanas (romaji, ローマ字).

** Kuukai (空海, oceano de vacuidade) - também conhecido pelo seu nome póstumo Koubou Daishi (弘法大師, o grande mestre propagador do Dharma), (774 - 835 d.C.) - foi um monge, poeta, servidor civil e acadêmico japonês. É considerado como patriarca fundador da escola budista esotérica Shingon no Japão. Apesar da crença popular, especialistas duvidam de sua autoria desse poema, cujo primeiro registro histórico data do início do século X.

*** Para ouvir monges cantando-o: http://www.youtube.com/watch?v=F3MSeUJ35MY. Há quem diga que esse poema foi inspirado no sutra do Nirvana (Supostamente, os últimos ensinamentos do Buda Shakyamuni antes de sua morte):




諸行無常 (Shogyō mujō)
是生滅法 (Zeshō meppō)
生滅滅已 (Shōmetsu metsui)
寂滅為楽 (Jakumetsu iraku) 


Todos os fenômenos são impermanentes:
Essa é a lei do nascimento e morte.
Na extinção do nascimento e morte,
O verdadeiro êxtase da liberdade dos desejos.




22 de set. de 2012

Amanhã, amanhecerá

"Amanhã será um dia mais feliz
Pois tudo que eu quis dizer, tudo que eu quis fazer
Amanhecerá o dia mais feliz
De tudo que eu quis dizer, de tudo que eu quis fazer
Eu fiz

E amanhã será um dia mais feliz
Pois tudo que me afligiu, tudo que me distraiu
Amanhecerá o dia mais feliz
E dele não vou escapar e junto eu vou gritar

Amanhã será sempre o dia mais feliz
Não acha?"


Todo dia pode ser e sempre será o dia mais feliz. Então cante, dance, grite. Este sempre será o único dia que você terá. O amanhã, amanhecerá.


Saudades bro, "smile" 'kay!

Haydeé

Manhã cinza,
Manhã triste.
Uma chuva leve cai lá fora
Lavando tudo
E levando embora,
De gota em gota,
Alegrias e tristezas,
Sorrisos e lágrimas
De uma vida sofrida
De brancos cabelos ralos
Olhos cansados,
E um coração cheio de amor.
Manhã cinza,
Manhã triste.


Até breve, vovó! Obrigado por tudo!
_/\_


12 de set. de 2012

21 de ago. de 2012

Sonetagem



Uma pequeníssima e sucinta amostragem dos sonetos brasileiros (e Camões, pela ausência de poetas brasileiros em nosso primeiro século) ao longo de nossa jovem existência.



~ Século XVI ~

Soneto II 
(Luís de Camões, Lisboa - 1524-1580)


Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.

Farei que Amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia, e pena, ausente.

Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.

Porém para cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa,
Aqui falta saber, engenho, e arte.




Século XVII ~

Buscando a Cristo 
(Gregório de Matos "boca do Inferno", Salvador - 1636-1695)

A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos 
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.

A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.

A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me

A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.




Século XVIII ~


Soneto XCVIII 
(Cláudio Manuel da Costa, Mariana (MG) - 1729-1789)

Destes penhascos fez a natureza 
O berço, em que nasci! oh quem cuidara, 
Que entre penhas tão duras se criara 
Uma alma terna, um peito sem dureza!

Amor, que vence os tigres por empresa
Tomou logo render-me; ele declara 
Contra o meu coração guerra tão rara,
Que não me foi bastante a fortaleza.

Por mais que eu mesmo conhecesse o dano, 
A que dava ocasião minha brandura, 
Nunca pude fugir ao cego engano:

Vós, que ostentais a condição mais dura,
Temei, penhas, temei; que Amor tirano, 
Onde há mais resistência, mais se apura.




Século XIX ~

Ingratos 
(Pedro II do Brasil, o Magnânimo; Rio de Janeiro - 1825-1891)

Não maldigo o rigor da iníqua sorte,
Por mais atroz que fosse e sem piedade,
Arrancando-me o trono e a majestade,
Quando a dous passos só estou da morte.

Do jogo das paixões minha alma forte
Conhece bem a estulta variedade,
Que hoje nos dá contínua felicidade
E amanhã nem — um bem que nos conforte.

Mas a dor que excrucia e que maltrata,
A dor cruel que o ânimo deplora,
Que fere o coração e pronto mata,

É ver na mão cuspir a extrema hora
A mesma boca aduladora e ingrata,
Que tantos beijos nela pôs — outrora.



Século XIX / XX~

A um poeta 
(Olavo Bilac, príncipe dos poetas Brasileiros; Rio de Janeiro - 1865-1918)


Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima , e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço: e trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego

Não se mostre na fábrica o suplicio
Do mestre. E natural, o efeito agrade
Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.



Século XX ~

Confronto
(Carlos Drummond de Andrade, Itabira (MG) - 1902-1987)


Bateu Amor à porta da Loucura.
"Deixa-me entrar - pediu - sou teu irmão.
Só tu me limparás da lama escura
a que me conduziu minha paixão."

A Loucura desdenha recebê-lo,
sabendo quanto Amor vive de engano,
mas estarrece de surpresa ao vê-lo,
de humano que era, assim tão inumano.

E exclama: "Entra correndo, o pouso é teu.
Mais que ninguém mereces habitar
minha casa infernal, feita de breu,

enquanto me retiro, sem destino,
pois não sei de mais triste desatino
que este mal sem perdão, o mal de amar."



Século XX / XXI ~

Soneto
(Chico Buarque, Rio de Janeiro - 1944-)


Por que me descobriste no abandono
Com que tortura me arrancaste um beijo
Por que me incendiaste de desejo
Quando eu estava bem, morta de sono

Com que mentira abriste meu segredo
De que romance antigo me roubaste
Com que raio de luz me iluminaste
Quando eu estava bem, morta de medo

Por que não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar, com que navio
E me deixaste só, com que saída

Por que desceste ao meu porão sombrio
Com que direito me ensinaste a vida
Quando eu estava bem, morta de frio









15 de ago. de 2012

Hasta las Estrellas

Y cuanto a mi, me gustaría
Subir contigo hasta las estrellas:
Volar en las alas de Pegaso,
Y bailar por el infinito.

Me gustaría bucear en tus galaxias
Navegar tu intimo, en una profusión
De tormentas de rayos gamma,
Rayos X, UV, electrones, neutrinos,
Y todo más a que tendríamos derecho.

Ah, ¡cómo me gustaría
Subir contigo hasta las estrellas!
(Pero mis pies no saben dejar el suelo.)

12 de ago. de 2012

5 de ago. de 2012


Quando o homem olha para os céus e não se sente maravilhado; 
Não se sente especial, sortudo, parte desse todo enorme que o rodeia,
Há algo de muito errado com ele.

24 de jul. de 2012

Guerras, dedicação e a vida acadêmica

Nesse último mês, assisti - em velocidade procrastinadamente impressionante - o seriado Chinês chamado "Os três reinos" (em mandarim, 三国, san guo), baseado na obra de Luo Guanzhong "Romance dos Três Reinos", escrita no século XIV; e nos "Registros dos Três Reinos", texto do século III compilado por Chen Shou. A série é uma das várias adaptações midiáticas desse período histórico da China, e foi produzida com um dos maiores orçamentos da história (aproximadamente 30 milhões de dólares americanos). É realmente uma obra gigante, com 95 episódios, excelente figurino e ótimos atores.

A história começa na Rebelião dos turbantes amarelos, uma revolta civil contra o reinado do imperador Ling, da dinastia Han no final do século II. Nessa época, segundo contam os registros históricos, a dinastia Han - que até então durara 400 anos - estava em declínio devido à incompetência administrativa de seus oficiais. A rebelião foi apaziguada pelas forças imperiais, mas por causa das longas batalhas, grande parte da população estava descontente, e a descentralização do poder foi inevitável. O Império se fragmentou nas mãos de lordes regionais e deu-se início à guerra para reunificação chinesa. Nessa confusão, três grandes domínios destacaram-se e emergiram após várias batalhas e unificações regionais: Wei, ao norte (liderado pela dinastia Cao-Wei); Shu, a oeste (liderado pela dinastia Han-Shu); e Wu ao sul (comandado pela família Sun). Esses três reinos chegam a um equilíbrio de forças que durou dos anos 220 a 263, quando Wei dominou Shu e, posteriormente, Wu; dando início à dinastia Jing (que também não durou muito, diga-se de passagem).

Dentre os vários personagens e as várias histórias paralelas, uma das que me chamou mais atenção foi a do estrategista e intelectual Zhuge Liang (諸葛亮), também conhecido como Dragão Adormecido. Segundo a história, ele viveu grande período de sua vida como recluso, dedicando-se a atividades agrárias simples e ao estudo das artes e das guerras. Aparentemente, sua fama espalhou-se pelos reinos e vários lordes tentaram usá-lo a seu serviço, mas ele apenas aceitou servir a um deles (Liu Bei), e mesmo assim foram necessárias três visitas do lorde à sua cabana na floresta para convencê-lo.

Um dos pontos que mais me chamou a atenção foi no final da série. Após a morte de Liu Bei - então imperador do reino Han-Shu - seu filho Liu Shan assumiu o trono, e Zhuge Liang continuou prestando seus serviços ao estado e lutando pelo objetivo de Liu Bei (reunificar o reino e re-estabelecer a dinastia Han). Durante sua última invasão a Wei, o estrategista e comandante geral do exército Wei (o grande Sima Yi) obteve sucesso em um estratagema que semeou contenda na corte Han-Shu, e um dos principais conselheiros do imperador Liu Shan começou a suspeitar das atitudes de Zhuge Liang. Com isso, o imperador viu-se forçado a chamar Zhuge Liang de volta à capital para prestar esclarecimentos. Uma vez desmascarado o plano de Sima Yi, o conselheiro do imperador foi detido e mandado de volta à sua pequena vila no interior do reino Shu. Enquanto voltava para o campo de batalha, Zhuge Liang conversava com Li Fu, filho do conselheiro, que lhe disse que seu pai estava bastante feliz por poder voltar à sua terra e a uma vida simples de plantar, colher, e aproveitar a vida em paz.

 


Zhuge Liang para pensativo (6:05 do vídeo) e responde com pesar: "Ah, como eu o invejo! Como eu gostaria de poder voltar à minha velha cabana e às minhas atividades simples do dia-a-dia!"

--

Nossas vidas são um paradoxo. Dedicação muitas (e na maioria das) vezes envolve sacrifícios. O caminho que escolhemos nem sempre nos agrada, nem sempre nos faz feliz; e não raro paramos para considerar como teria sido se tivéssemos, ao invés, escolhido outro caminho. O fantasma do "e se" assombra no mínimo 99.9% das pessoas do mundo, pelo menos uma vez na vida. Lembro-me sempre de uma frase que li em algum momento que dizia algo nas linhas de "o caminho mais árduo traz as melhores recompensas". Por um longo tempo, acreditar nisso foi a motivação da minha carreira; mas hoje em dia vejo essa crença como algo tolo e superficial. Voltando ao seriado, o aspecto que mais me interessou é que não são os "mocinhos" que ganham, mas os vilões. Apesar de todo o esforço, de toda a dedicação de Zhuge Liang, Liu Bei e os demais, a dinastia Han caiu para nunca mais voltar. Nem sempre dedicação e esforço têm resultados positivos a curto prazo, e nem sempre o maior esforço leva à melhor vitória. Reescrevendo aquela frase, "o caminho mais árduo nem sempre traz as melhores recompensas." E não faz mal! Apesar de não terem obtido sucesso, com certeza Liu Bei e Zhuge Liang morreram de consciência tranquila por terem seguido seus ideais e terem lutado até o fim. O sucesso de verdade não é algo que se mede apenas pelos resultados, mas pela jornada como um todo. Nem sempre é possível conquistar todos os sonhos; e nem sempre é possível obter os resultados que se espera. Isso te faz um perdedor? Depende do ponto de vista.

A ciência é cheia de todos os tipos de exemplo no que diz respeito a dedicação e à carreira acadêmica. Interessante observar que as vidas dos maiores cientistas nunca foram fáceis. Antigamente, havia guerras e pestes, o que tornava a vida bem mais complicada. Curiosamente, eram nesses momentos difíceis que as maiores descobertas surgiam. Schrödinger, por exemplo, sofria de tuberculose e passou por vários episódios de internação. Foi justamente durante um desses que desenvolveu sua famosa equação da descrição energética de estados quânticos. Max Planck, um dos pais da mecânica quântica, disse que propôs a quantização da energia (até então tratada como um continuum pelo paradigma newtoniano) num golpe de desespero. Em seus últimos anos, ele mesmo era contrário à teoria quântica (junto com Einstein, Schrödinger e outros famosos físicos da época), que viu florescer. Como ele mesmo dizia: 
"A new scientific truth does not triumph by convincing its opponents and making them see the light, but rather because its opponents eventually die, and a new generation grows up that is familiar with it." Outro exemplo interessante é o do químico judeu-alemão Fritz Haber. Ele ganhou o prêmio Nobel por desenvolver o processo de síntese da amônia, mas o aplicou de maneira bastante duvidosa. Haber foi o cabeça do desenvolvimento das primeiras armas químicas, durante a Primeira Guerra Mundial. Sua esposa, também química (Clara Immerwahr), suicidou-se com a pistola de seu marido em reprovação à sua atitude detestável. Na mesma manhã de seu suicídio, Haber foi ao campo de batalha para colocar sua arma química em prática. Haber apoiava o regime nazista e dedicou-se ao extremo para apagar todos os traços de sua ascendência judia; porém apesar de toda sua cooperação e de seu Nobel, o regime Nazi o expulsou da Alemanha. Seus experimentos e suas descobertas foram usados para desenvolver o mesmo gás utilizado nas câmaras de extermínio dos campos de concentração alemães. Haber é um exemplo do paradoxo acadêmico: apesar de seu caráter nacionalista duvidoso (ele disse: "em tempos de paz, os cientistas pertencem ao mundo; mas em tempos de guerra, eles pertencem à sua nação."), é graças a ele que temos acesso a fertilizantes e herbicidas, sem os quais a agricultura dificilmente teria permitido a oferta de alimentos que temos hoje.

Dedicação e esforço, particularmente na vida acadêmica, raramente andam junto com o senso comum de felicidade. A grande maioria dos cientistas famosos teve uma vida pessoal totalmente confusa; marcada por relacionamentos instáveis e personalidades excêntricas. Alguns, como Boltzmann, acabaram suicidando-se. Por vezes, anos de dedicação a uma hipótese terminam em fracasso; e há casos em que apenas anos após sua morte é que a teoria de um cientista é provada. A vida acadêmica é um caminho bastante solitário, na verdade. A maioria das hipóteses  são como sonhos de crianças. São coloridas, felizes, maravilhosas; mas raramente se provam reais. Poucas pessoas compreendem a jornada acadêmica: os anos - frequentemente miseráveis - de dedicação e estudo que te levam de volta à universidade. Para chegar a uma posição de professor assistente (o primeiro cargo acadêmico numa universidade grande), é necessário no mínimo 10 anos de estudo além do ensino médio; e o salário não é muito maior do que o de um engenheiro recém-formado (e infinitamente menor do que cargos públicos concursados em Brasília). Uma formação mais completa frequentemente envolve anos de estudo no exterior, longe da família, longe dos amigos e longe da vida na terra natal. A vida passa, os amigos se casam, têm filhos, compram carros e casas; os ex-amores arrumam novos amores, e o mundo vai girando, enquanto o aspirante-a-acadêmico continua sua relação de amor solitário com suas teses e teorias em algum canto do mundo. E isso para quê? Não é por fama, nem por gana. Cientista raramente fica famoso e muito menos rico. Isso é pela paixão pelo conhecimento, por poder dar uma contribuição, por mínima que seja, ao mundo. É, de novo, como sonho de criança. É querer tornar esses sonhos possíveis.

Parafraseando Zhuge Liang: às vezes dá uma inveja daqueles que levam uma vidinha tranquila, com sua casinha, sua família, trabalhando só por ter o que comer e beber; satisfeitos com o mundinho pequeno e a vida comum em redor...

14 de jul. de 2012

Flying

青空よ
わたしを聞くな
我の声は
こころと同じ
バカすぎるから

青空よ
雲が好きなの?
最近は
ずっと灰色
ずっと曇りだ

嗚、夜空!
真っ黒い夜
月や星
全然見えぬ
今夜の空に

この空は
我の空虚が
遠くまで
広がっている
宇宙の果てへ






Num pulo

Foi naquele sonho
Que você aparecera
E sorrira-me
O teu mais lindo sorriso
O nosso mais lindo beijo

8 de jul. de 2012

神宮の中

あのみちを
ふたりが歩く
一緒に
ゆっくり進む
永遠までへ

20 de jun. de 2012

Subliminally

Subliminally
You pour your heart out
Word by word
Sentence by sentence
Like a shy cloud
That without much ado
Rains itself all over a dry land
Expecting to be absorbed
Expecting to be understood
But above all expectations
Just being a cloud
Showering down

Desertly,
I capture the unsaid words
With the wisdom of a fool
And an overbuilt caution
Like the cat who walks surreptiously
Over an offering of cold milk
In a hot summer day
Uncertain what to do next
Afraid to take a step forward
And be caught and captured
Just a cat being a cat
Sensitive and scared

Subliminally,
Those three little wordily devils
Float around jokingly
Laughing out loud at the puzzled me

Desertly,
I let myself be washed down
Maybe when Spring comes
New flowers will blossom

18 de jun. de 2012

O químico

Subindo e descendo as barreiras
Passando por túneis quânticos
O químico segue adiante
Cruzando impetuosamente os complexos
Transientes estados de incerteza
Para onde o levarão?
O caminho pode ser irreversível
E ainda que desconhecendo o fim
Adiante ele caminha
Perfazendo seu mecanismo
Concertando-se aos demais
Que, como ele, viajam 
Navegando perdidos na solução
Diluindo-se e deixando-se levar por
Pontes eletrostáticas
Perdendo-se, de polo a polo,
Em solventes braços.
Ora na garupa catalisadora
Outrora pegando as ondas
Que o iluminam com seus fótons
No paradoxo dualista da Natureza
Ele recebe a energia 
Para adiante prosseguir
Por cada passo intermediário
Até atingir, no fim, um dia
O dinâmico equílibrio.

--

Subindo e descendo as barreiras
O químico segue adiante
Na montanha-russa da vida
Cujo fim é apenas um mínimo local
Apenas mais um começo 
Um começo cujo fim
Será sempre outro começo
Pois se nada se cria,
Como pode haver fim absoluto?
E, nessa transformação eterna,
Só há a ação do transformar
Que um dia fará desse químico
Alguma outra molécula mais
A viajar pelo tempo-espaço
Criando e recriando o universo inteiro
Que sempre esteve e estará bem ali
Naquele químico
Que insiste em seguir adiante.

17 de jun. de 2012

悟り

泣いて
笑って
生きて

Sumiê

Um velho buda

Recriando budas

Com seus pincéis

E sua tinta de carvão

Trabalhando em sua solidão

Com toda a grande Terra

E os seres sencientes

Sob a estrela da manhã

Um velho buda

E a tinta de carvão

Do alto do templo

Do alto do templo
Um casal de corvos discutia
Mas apenas um falava
(Será que era a fêmea?)

Um velho monge passa
Carregando uma garrafa de chá,
Um sorriso e um bom dia.

Nehan

No goal
No finish line
How can there
Be a winner?
And how can there
Be a loser?

O velho corredor

O velho corredor polido
Reflete cada passo do monge
Que continua a poli-lo
Como quem lava um oceano
Se a velha madeira o reflete
Como pode o sentar
Não torná-lo buda?

7 de jun. de 2012

Ondando

E no meio do meio do mar
Sem bússola ou estrelas
Nem capitão para o guiar
Um velho barco a velas a navegar
Seguindo o rumo sem rumo
Das ondas e do ar

Escravo de ventos e correntezas
Livre para ir sem se preocupar
Certo de que há no fim de aportar
Ele goza da viagem suas belezas

Alimentado pela força do Sol
E tomando a Lua por poesia,
Embalado pela invisível maresia,
O velho barco segue pelo infinito só

Quantos portos ainda há de visitar?
Quantas tempestades suportará?
Até onde o Oceano o carregará?
E, lá, o que há para se encontrar?

No meio do meio do mar
Seguindo rumo sem rumo
O velho barco a velas
Pra sempre a navegar

5 de jun. de 2012

Au au!

"Oi!" e um sorriso.
Entre latidos,
Meu coração explode.

Fio

Às vezes sinto-lhe aqui,
Outras vezes sinto-me ali
Na outra extremidade
E na outra extremidade
O que é que há?

Há de haver
Algum objeto direto
Quiçá pronome pessoal
Do caso reto (ou oblíquo),
Algum complemento
Dessa ação sem fim.

Há de haver
Sujeito ainda oculto
Desconhecido e perdido,
Subordinado por
Avalanches de orações incoesas
Entre períodos nada coerentes.

Há de haver
O pleonasmo perfeito,
Um delicado eufemismo:
Aquela metáfora faltante
Pra essa linguagem desfigurada.

Há de haver
O que quer que haja,
Desde que havendo
Eu possa perceber, ao lhe ver,
Que há apenas você.

Há de haver
Fim pra este emaranhado
Cujo começo desconheço
Cujo fim também desconheço
Mas acredito que
Há de haver
(E há de ser você.)

29 de mai. de 2012

不眠症のおしゃべり

夜中に
書いた
君への
和歌を
誰でも
読めん

全部心から
書いていた
だけど僕は
言葉に全然
上手くない

いつか君に詠ってまたい
君は僕の和歌が分かるか
君は和歌が好きだろうか
君は僕のことを考えるか

夜中に
書いた
君への
和歌だ


Nuvens

Vazias
Palavras ecoam
No sem-fim do peito

Distantes ecos
Daquele outrora eterno,
Resplandecente apego

Resquícios,
Esquecidos retalhos,
Mal-remendados pelo tempo

Abandonados,
Mastigados e desfigurados,
Manchados e desfiados pelo vento.

Vazias,
Palavras ecoam
No sem-fim do peito

9 de mai. de 2012

Abbandono


E se vuoi andare via
Cosa posso Io fare,
Altro che lasciarti partire;
Come la roccia
Che riceve senza paura
Il vento freddo di matina
E gli permette di soffiare via
Portando piccoli pezzi di lei

Ti lascio partire,
Come i innumerevoli granelli di sabbia in spiaggia,
Che abbracciano le onde erranti
come fossero baci passionati
Solo per lasciarle scorrere via
Dopo due o tre secondi di amore eterno
Ed lasciarsi essere trascinato,
Dragato ed sparso da loro
Fino ogni parti del mondo.

Si, ti lascio partire,
Come il cielo di Primavera
Lascia fluire le nuvole delicati
Che svaniscono da soli
Senza lasciare traccia
Nel blu infiniti.

Ti lascio partire,
Perché lo so che sempre sarai
Parte di me.

Ti lascio partire,
Perché lo so che sempre sarò
Parte di te.

30 de abr. de 2012

Compilação I

Há uns meses, cedi à tentação e adquiri um Moleskine. Tenho escrito nele e, num relapso de preguiça, deixei de atualizar aqui. Resolvi digitalizar e dividir aqui algumas das páginas dele.

Boa sorte com a caligrafia, hehehe. :)










(Textos do fim de inverno/início da primavera, 2012)

23 de fev. de 2012

Apagão

Pouco a pouco a vela desaparece
Pouco a pouco meu reflexo desaparece
Pouco a pouco eu desapareço
No fim, a escuridão relembra
Que somos todos iguais.

20 de fev. de 2012

Rest

Sunset.
Waves shatter calmly in the shore, shaken by the cold evening breeze.
The sky is gradually tinted in scarlet red.
I wonder what is that first star shining sharply after the Sun's leave.
Cold wind blows. My hands are freezing.
I'm alive.
I'm alive!!
And I'm so thankful for that.

14 de fev. de 2012

Valentim

Fim de tarde. Os bravos grilos começam a sinfonia que há de estender-se por horas noite adentro. A visão dos jardins de Hogwarts fica incrível nessa época do ano: as copas das árvores - cobertas por uma espessa camada de neve - e o gramado todo trançado pelas pegadas dos alunos formam um cenário maravilhoso ao pôr-do-Sol, que tinge toda a paisagem num tom indescritível entre alaranjado e vermelho-sangue.


"Ah, o inverno!" -- suspira o novo professor de Poções, Sr. Brown.


"Já faz tanto tempo que esse lugar faz parte da minha vida, e tanto tempo desde que pisei aqui pela última vez, exatamente nessa mesma época."


O vento sopra com força, fazendo as árvores tremerem e derrubarem parte de sua cobertura alva. Brown fora um dos melhores alunos e monitores da Corvinal, destacando-se especialmente em Poções, quando estudara em Hogwarts, há uma década.


"É, o vento do tempo sopra mais rápido do que somos capazes de perceber."


Pouca coisa havia mudado nos últimos dez anos, desde que o famoso auror Potter, ajudado por membros da extinta Ordem da Fênix, deflagrou de vez o grupo dos terríveis Comensais da Morte, à época liderados pelo grande bruxo das trevas, Tom M. Riddle (conhecido pela alcunha de "Voldemort"), na épica Batalha de Hogwarts. A escola permaneceu fechada por alguns meses para reconstrução e reformulação de seu sistema de ensino, corrompido pela influência do Ministério da Magia - então enraizado por membros dos Comensais. A maioria dos professores optou por continuar lecionando na escola, hoje dirigida pela excepcional Professora McGonagall.


Brown caminha até sua mesa e senta-se lentamente, perdido em seus pensamentos. Olha para uma carta sobre sua mesa e sorri.

"Ah, Mandy! Mandy, Mandy... Bons tempos aqueles, né? Agora ficamos velhos e sérios demais. Éramos tão bobos e tão inocentes que não nos importava o que os outros diziam, as coisas materiais, ou os problemas da vida. Aliás, que problemas? Mas a vida passa, né?" -- Brown passa os dedos devagar sobre a carta.


~~

"Argh, todo ano é esse calor maledeto! Ainda bem que os Trouxas inventaram esse tal ar .. ar .. comissionado? Enfim, esse treco que traz o inverno no meio do verão. Pelo menos não preciso ficar conjurando Invernatio a cada 15 minutos!" -- resmunga a jovem bruxa M. Granger, enviada especial do Ministério da Magia - Divisão de História e Desenvolvimento da Magia - à América do Sul.

"Granger, precisamos ir até o campus de Manacapá, verificar os papiros encontrados pela equipe do Dawner.

"Aaaahh Fields, preciso ir mesmo? Mesmo, mesmo? Ele não pode simplesmente mandar via coruja? Aquele lugar é um inferno de quente, nem Merlin aguenta!"

"Ora, vamos! Pare de reclamar e abrace a maravilha do Sol!!! Além do que, são papiros antiguíssimos! Sabe-se lá o que pode acontecer no meio da viagem. E pense nas pobres corujas, por Merlin!! Voar deeesde lá, nesse calor! Coitadinhas!" -- retrucava Fields, enquanto puxava Granger pelos braços até a porta do escritório. 


Julieta Fields e Mandy Granger estudaram História e Arte Bruxa juntas após Hogwarts. Julieta, como Mandy, era uma proeminente aluna da Grifnória. Agora, ambas trabalhavam em um projeto para identificar como a Magia se desenvolveu na América do Sul bem sob os olhos dos trouxas, que nunca deram atenção. Especialmente nessa época do ano, uma grande festa bruxa é organizada e a magia espalha-se pelo continente.


~~

"14 du Fevrier. Un altre Valentin loins de toi. Nous avons pris cette habitude je pense. C'est la vie, le   destin  , n'est?" -- Brown escrevia num papel, com sua melhor pena. "Mais je ne me plains pas, puisque juste pour savoir que tu es a quelque part, sans et saufs, est sufissant pour garder mon coeur toujour chaude et heureux."

A noite começava a cair em Hogwarts. Já era possível ouvir os uivos distantes dos lobisomens. A pena pára naquele último ponto final, e Brown decide parar de escrever. Levanta-se, veste seu casaco, pega sua varinha de cedro e fibra de asa de Dragão, e sobe até o alto das masmorras.

A Lua desponta solitária no céu, reinando sobre todas as estrelas - opacas frente à sua imponência. Lá embaixo, na Floresta Proibida, os centauros alinhados observam-na em algum tipo de ritual que, com certeza, Professor Walker saberia explicar - mas que Brown não tinha interesse algum em entender naquele momento. Dizem os antigos magos que o entendimento é o pior inimigo da magia: quando entendemos algo, ele torna-se trivial, ordinário, e perde todo e qualquer poder mágico que outrora possuíra. Há inclusive uma lenda no mundo trouxa, que afirma que os seres humanos perderam-se do Paraíso (uma espécie de lugar maravilhoso, eternamente sob efeito do perfectum illusio) quando comeram do fruto da árvore do conhecimento. Mesmo os trouxas, de alguma forma, compreendem esse fato.

"Ah, Lua!" -- suspira Brown. "Há tanta magia em você! Tanta, que até os trouxas chegam a perceber às vezes." 

"Hm, acho que hoje - só hoje - mais um feiticinho não fará muita diferença." -- Brown aponta sua varinha à Lua, concentra-se e murmura: "lepus figura".


~~

"Wah, cansei!" -- resmunga Granger, jogando-se em sua cama. "Aquele lugar é impossível de morar! Não sei como aqueles bruxos conseguiram sentir qualquer coisa além de calor ali."

"Bah, deixe de reclamar, criatura! Valeu a pena ir até lá, não? Aqueles papiros são incríveis! Acho que tem mais informação lá do que em 'Hogwarts: Uma História'!" -- respondeu Fields, empolgada com o trabalho.

"Ah, isso é. Mas, argh. Podia ser um lugar menos quente né?" -- responde Mandy, levantando-se em um pulo da cama. "Vou la fora respirar um pouco de ar fresco."

A noite estava quente lá fora também. Aliás, essa época do ano é quente em qualquer hora do dia, ali onde Mandy Granger estava. O Brasil é um país maravilhoso, e tem bruxos bastante famosos no mundo, mas pouco se conhece de sua história. Mandy estava numa região isolada, quase no meio daquele tórrido país. A vegetação rasteira, em meio à planície, fazia do lugar quase um palco gigante, sob a iluminação das estrelas e, claro, da Lua. Ouvia-se os sons dos pássaros ao longe, mas só. Não havia os uivos dos lobisomens, nem o escândalo do salgueiro lutador, ou o batuque discreto dos centauros - que Granger tanto gostava de ouvir às noites de Lua cheia, como essa. Também não havia neve, nem os farfalhares das corujas em suas jaulas, nem os passos silenciosos de alunos fugidios pelos corredores. Não havia tanta coisa de suas noites de Lua cheia preferidas. Mas havia ela, a Lua. 

"É. O tempo passa, e você continua aí em cima, né, encarando a gente. Você deve ter tanta história pra contar! Gostaria de poder extrair suas memórias e lê-las numa penseira! Com certeza seria muito mais emocionante do que qualquer uma do Beedle, o Bardo. Mas acho que isso não é possível, né? Imagino quanta gente já teria feito isso, se fosse. O máximo que podemos fazer é tentar lê-la: o que será que você pensa? Será que guarda todas as canções, todas as confissões, todos os segredos com você?" -- Mandy pára e tenta encarar a Lua, como quem olha uma obra de arte moderna trouxa e tenta entender o significado daquelas formas tortas e desproporcionais.

"Oh!! O coelho!!!" -- Exclama a bruxa, em voz alta.

[Flashback]

"Hey Mandy, o que você vê ali na Lua?" -- perguntou Nuno Brown, enquanto voavam pelo campo de Quadribol em sua Firebolt.

"Hm? Na Lua? Um monte de manchas!" -- respondeu a jovem Mandy Granger, enquanto abraçava Nuno, sob pretexto de não cair.

"O que?! 'Um monte de manchas'? Onde está sua imaginação e seu romantismo?"

"Ah..." -- retrucou a garota, cabisbaixa. "E você Nuno, consegue enxergar algo lá?"

"Hmm, vou te mostrar." -- respondeu Nuno, enquanto descia a Firebolt, pousando-a em um morro próximo ao campo. "Olhe atentamente para ela. Se você imaginar que aquela bola ali em cima é uma orelha, então você conseguirá ver um coelho! Meio torto, mas ainda assim, um coelho!"

"... um.. coelho. Olha, nem com a imaginação da Lovegood eu conseguiria enxergar um coelho ali! O máximo que eu consigo ver é, talvez, com um pouco de exagero, uma cara de um rato - daqueles de programas infantis de trouxas." -- contestou Mandy, emburrada.

"Um rato?! Poxa, seu romantismo é tocante!" -- disse Nuno, rindo e abraçando a garota.

"Ha - ha - ha. Como se coelhos tivessem algo a mais de romântico que ratos!" -- replicou Mandy, cruzando os braços e fechando a cara.

"É... bem... Mas, convenhamos, poucos animais são menos românticos que ratos! Talvez basiliscos, ou aranhas, ou dragões. Coelhos são animais bonitinhos e simpáticos! Os trouxas até os têm como bichos de estimação!"

"Sim, mas eles também têm ratos como bichos de estimação!!"

"Erm. Bom, os trouxas são seres estranhos, né..." -- retrucou Nuno, coçando a cabeça desconcertado. "Mas enfim! Hoje é uma noite especial, e por isso eu te trouxe aqui! Feche os olhos!"

"Hein? Noite esp... AH! Hoje é o Valentine's Day, né!! Puxa, eu nem me lembrei! Argh, eu PRECISO melhorar esse meu problema com datas! Mas, o que você tem pra mim?!"

"É, é, eu não esperava que você lembrasse. Ano passado você esqueceu nosso primeiro aniversário de namoro, e o MEU aniversário! Mas, enfim, feche os olhos. Maintenant!"

Mandy fechou os olhos, depois de murmurar um "ops!" silencioso. Nuno sussurou algo praticamente inaudível e pediu para a garota abrir os olhos. Em sua frente, no meio do campo de Quadribol, um coelho gigante segurava um rojão, que explodiu no céu e o transformou num enorme coração vermelho com as iniciais dos dois. Enquanto olhava as iniciais desaparecerem lentamente, Mandy olhou novamente para a Lua.

"AH!!! EU VI O COELHO!!!" -- gritou, empolgada.

"Bom, um coelho desse tamanho, se você não visse..." -- replicou Nuno, rindo.

"Não, sua mandrágora! O coelho na Lua! Eu o vi agora!!!"

"Aah! Viu só! É só ter um pouquinho de imaginação que dá pra ver até Merlin lá!"

Os dois riram e ficaram ali por mais um bom tempo, abraçados, ouvindo os sons da floresta, e aproveitando a luz do luar, como se fosse o último dia de suas vidas; e como se não fosse acabar nunca.

[Fim do Flashback]

"O.. coelho.." -- murmurou Mandy, sentindo um sorriso esboçar-se e algo quente escorrendo por seu rosto. "Hein? Estou chorando? Eu, Mandy Granger, chorando?! Devo ter sido enfeitiçada, só pode!"

Mandy ficou ali por um longo tempo olhando para a Lua e rindo sozinha, relembrando de um passado  meio distante, enquanto algumas lágrimas de nostalgia rolavam timidamente, contornavam as covinhas modestas de seu rosto e caiam em seu colo. O som de uma coruja, ao longe, a trouxe de volta o presente. A coruja pousou em seu braço e lhe entregou a carta que viera de Hogwarts. Mandy abriu a carta com sua varinha e, para sua surpresa, ela rodopiou no ar e explodiu, fazendo aparecer um coelho no céu e as iniciais M&N.

"Hahaha. Ai ai, tu é uma figura mesmo, Nuno. Tem coisas que nunca mudam, né?" -- sorria a  garota, enquanto pegava um dos fragmentos da carta que explodira. "'... toujour chaude et heureux.' É, algumas coisas nunca mudam. Você nunca vai aprender que toujours tem um -s no final, né? É uma mandrágora mesmo!" -- ria sozinha a garota.

Lá de cima, a Lua observava calada a história que se desenrolava sob sua face. Cá pra mim, tenho certeza de que, se pudesse, ela estaria sorrindo também. Ou talvez esteja. Se você olhar bem, dá pra ver um sorriso enorme nela. :)



14 de jan. de 2012

Wintery

The night goes by quietly.
Under the heavy futon, the air is warm.
Still, my feet are icy cold.

夜が静かに過ごす。
重い布団の中には空気が暖かくなった。
だが、自分の足がずっと冷たい。

3 de jan. de 2012

Melodia noturna

O borbulhar compassado do vaporizador
Intercala com o tic-tac monotônico do relógio de mesa,
Sobre a base aguda e discreta
Do motor da velha geladeira.
Embalado pelo fogo elétrico do aquecedor
E da inusitada sinfonia da tecnologia,
Repousa a insônia da última noite de férias.