31 de jan. de 2013

6.18AM


A noite arrasta-se tartarugamente,
Como um bêbado que desliza em câmera lenta sobre uma pista de ovos.
Embalada pelas batidas fortes (com mais decibéis que conteúdo),
Te vejo sentada no canto, mirando o nada.
'O que se passa ali dentro?', pergunto-me sem efeito.
Tuas mãos nas dele, e as dele encasuladas nas tuas:
Um carinho singelo, quase desapercebido na enebriação do grogue.
Teus olhos, distantes: além do além.

Lágrimas escorrem sem propósito.
Misturam-se a um resquício de suor mal-evaporado
Lavando meus olhos e queimando-os como álcool em ferida aberta.
Então isso é tudo. Ponto final.
Nada existe de mais decepcionante no mundo que as malditas expectativas!
Nem sonhos incabados, nem o primeiro beijo, nem o final de Lost;
Nada decepciona mais do que expectativas.

O sol clareia aos poucos o céu sobrecarregado.
O friozinho da manhã e a caminhada longa ajudam a aliviar os efeitos do álcool.
Vocês caminham, a passos meio entrelaçados, de mãos dadas.
Aquelas lágrimas secam ao vento fresco
E são deixadas para trás
Com o raiar do novo dia.

Nan

Não sei nem o que
Nem o porque,
Muito menos o saberia dizer
Assim, sem mais nem menos,
Espontaneamente.

Não sei mesmo o que é,
Mas sei que algo há.
Algo que não sei dizer ou explicar
E, na real, nem sei se fazê-lo é necessário:
Explicações são tão chatas!
Monotonizam o que quer que se prestem a (tentar) explicar.
(A luz refletida nas asas de um avião
Torna-se-ia então um mero reflexo
Da realidade que encanta o observador.
Quem se importa com as leis da Óptica?!
Para o inferno com Snell, Kepler
E os demais infiéis da Física!)

Só sei que nem sei o que é
E muito menos o porque;
Mas, sinceramente, dane-se:
A ignorância é uma dádiva.
(Felizes os que sabem reconhecê-la.)

kotoba

Flutuantes
Palavras
Voam sem rumo
Dançam sem ritmo
E caem no esquecimento
Pois o que é que dura para sempre?

Flutuantes
Palavras
Como espumas no mar
Navegam sem direção
E chegam sabe-se lá onde
(E sabe-se lá quando.)

Flutuantes
Palavras
Voam longe, longe.
(Mas um dia chegam lá!)

Clock

That old sloppy clock,
Forgotten over the dusty fireplace,
Doesn't tick-tack anymore.
On its rusty arms,
Forever frozen in a single moment,
Time does not exist.
Time does not matter
For the old clock.
Its face's still shining portentously:
Just a fancy decoration to the plain white wall
But it is now useless,
It doesn't tick-tack anymore.
It is rusty, empty,
Hollow.

2.54 cm

Red lights dance around me
As feelings revolve inside
So vertiginously it makes me sick.
And you are standing there,
a mere couple of inches away.
So close I could touch your hands
(So close I could touch your hands!)

My heart throws itself on the vortex
Dissolves away into the flashing lights
Drops stunned on the dirty floor,
Like a drunkard who never knows when to stop
Only to find himself in the desolate,
Lonely state of rejected shit
Thrown up in the dance floor.

But you,
You are still standing there
A mere couple of inches away
So close I could touch your hands!

19 de jan. de 2013

Tempo


Meu eu de ontem disse pra mim
Oh, meu caro amanhã sempre feio
Quem me dera poder ser assim
Feito soneto que erra no fim

Eu de pronto rimei na canção
Meu desprezo do ontem razão
Meu desejo que um dia verão 
O lamento que dele me veio

Meu futuro sorriu encantado
Com orgulho dos passos já dados
Do caminho sofrido encontrado
Dos amores que sempre anseio

De começo no tempo eu errei
Já no metro inverti o refrão 
Sei que hoje esse meu coração 
Bate ontem, o amanhã que já veio

Música

E disse Deus "faça-se a música"
E assim fez-se Deus.