28 de fev. de 2013

Arrivederci

Under the white cassock
A fragile old body
And a burning heart
Exploding love.
A living Christ:
A living Buddha.




26 de fev. de 2013

A kind kind of kindness


Passei alguns minutos lendo o dicionário hoje. Não, claro que não o abri deliberadamente e comecei a lê-lo - creio que ninguém mais faça isso hoje em dia -: fui à caça da etimologia da palavra inglesa 'kindly.' Naquele momento, estava discutindo com um amigo sobre a possibilidade de kind (adj. bom, bondoso, sincero) ter a mesma raiz de kindle (v. embrasar, arder): para mim faria algum sentido que kind e kindle compartilhassem de uma mesma raiz, se enxergarmos bondade como um sentimento de um coração 'quente' (ok, pode parecer meio forçado mas, ainda assim, faria pelo menos um pouco de sentido).

Então, lá fui eu checar a etimologia de kind. Quem conhece um pouco de inglês sabe que kind apresenta dois significados: como substantivo, significa tipo, espécie (e.g. Sci-fi is one of my favourite kind of movies.); como adjetivo, tem os sentidos de (i) generoso, dedicado, que pensa nos sentimentos dos outros (e.g. She's a very kind person.); e (ii) que não causa dano ou perigo, benigno (e.g. Our product is kind to the environment.). Como pode a mesma palavra ter dois sentidos totalmente distintos como substantivo e adjetivo? Será que têm raízes diferentes? 

Ocorre que ambos sentidos originaram-se do mesmo vocábulo do Inglês arcaico, gecynd (significando tipo, natureza, raça como substantivo; e natural, inato, nativo como adjetivo): o prefixo ge- caiu por entre 1150 e 1250, e a grafia mudou de cynd para kind. Eventualmente, por volta do século XIV, o sentido do adjetivo evoluiu de inato para compassivo, benigno. [1]

O que me interessou foi notar uma sutil implicação filosófica disso: talvez compaixão e bondade fossem, então, consideradas qualidades inatas do ser humano. Aparentemente, apesar de a Inglaterra já ser cristianizada àquela época, os povos de lá ainda não haviam incorporado o conceito de natureza pecaminosa do ser humano propagado pela Igreja: St. Agostinho, por exemplo, definia já no século IV que - por causa do pecado original de Adão - toda a Humanidade apresenta-se num estado de depravação por natureza, sendo cada um incapaz de fazer o bem senão pela graça de Deus [2]. A visão de Agostinho, apesar de consolidada ao longo dos séculos pelos concílios da Igreja, não seguiu sem oposição; a mais notável de Tomás de Aquino, no século XIII. (Lutero e Calvino, principais nomes da Reforma, eram adeptos da visão de Agostinho - como, aliás, as igrejas evangélicas modernas fazem questão de deixar bem claro.)

Enfim, sempre simpatizei com os Bretões e seu bom senso; agora mais ainda. :) 

P.S.: No fim das contas, kind e kindle têm raízes diferentes: kindle vem do inglês arcaico cundel (colocar fogo, inflamar) de onde, aliás, também vem a palavra para vela, candle.


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[1] Vide http://www.etymonline.com/index.php?allowed_in_frame=0&search=kind
[2] Vide http://en.wikipedia.org/wiki/Original_sin#Augustine

White solitude

Over the vast whiteness
Only silence,
The shivering of trees,
And my anxiously beating heart.


12 de fev. de 2013

Satori

Manhã ensolarada num velho mosteiro português. Pedro debruça-se no parapeito da janela de sua pequena cela, enquanto alguns fracos raios de Sol pintam no chão escuro um padrão quadriculado. Há quantos meses estaria ali já? Ele, que passara anos estudando Latim, Grego, Hebraico e Aramaico; relendo textos antiquíssimos e memorizando rituais milenares; ele, que sentia claramente o chamado divino para exercer o sagrado ministério de Cristo, sentia-se só.

Pedro sentia-se só. 

Pedro sentia-se só; e não se tratava daquele tipo de solidão que bate quando se está sozinho: era uma solidão maior, mais profunda - daquelas que poucos conheceram. Pedro sabia que o mundo fervilhava a seu redor: ouvia falar de governos e guerras, dos avanços na Medicina, dos milagres da Ciência; conhecia advogados, bancários, artistas e tinha consciência do vasto leque de possíveis caminhos que cada Homem na Terra encontrava frente a si. E, mais ainda, Pedro sabia que, enquanto esse insano mundo girava, ele estava ali - debruçado em sabedorias centenárias e ritos arcaicos; vivendo uma realidade tão diferente daquela que o resto do mundo conhecia que enchia-se de dúvidas e medos (seria ele seria capaz de compreender aos fiéis e guiá-los, mesmo vivendo em um paradigma tão distinto?). Quanta coisa estaria perdendo? Quantos sorrisos? Quantos abraços, quantos amores? Quanta vida?

(Há noites, ajoelhado em seu oratório, Pedro questionava o propósito de seu chamado. Por que ele estaria ali, vivendo voluntariamente isolado de todos, quando poderia ter escolhido uma vida comum,  algum ofício habitual, amigos e - por que não? - alguma garota bonita em sua pequena cidadezinha do interior? Já revirara os evangelhos sinópticos; já estudara as epístolas paulinas, lera Agostinho, Orígenes, Aquino - até Lutero e Calvino! - e não encontrou as respostas que buscava. Decidira então, talvez como último recurso, rezar.) 

Lá fora, no velho carvalho em frente à janela de Pedro, um sabiá começa a cantar. O jovem seminarista observa encantado, por entre as grossas grades de ferro, o pequeno animalzinho. Lágrimas tímidas rolam de seus olhos e marcam sua batina surrada. Pedro, de repente, esquecera o que é que tanto procurava; esquecera todas as perguntas e todas as respostas que esperava encontrar. Levantou-se lentamente com um sorriso (coisa que, suspeitava, seu corpo havia desaprendido), cruzou a cela e ajoelhou em seu oratório. Nunca havia sentido solidão tão plena.

(Sé do Porto. Porto, 21 de dezembro de 2012)

11 de fev. de 2013

7 de fev. de 2013

Vinte-e-um do doze

Um dia para o fim do mundo
E agora, para onde fugir?
As colinas estão longe
(E já devem estar lotadas por agora.)

Um dia para o fim do mundo.
Pelo menos escaparei por algumas horas mais.
Apesar que - fim do mundo por fim do mundo -
O Japão parece-me estar melhor preparado
(Afinal, já passou por tantos...)

Um dia para o fim do mundo
Um dia para um novo recomeço
Poderíamos fazê-lo direito dessa vez;
Assim o fim do mundo não seria uma má ideia.

Um dia para o fim do mundo
E eu que achava que ele acabava a cada segundo...

(20 Dez, 2012. Porto)

Mirando

Cruzando cidades, países
Cruzando vidas que vêm e vão
Por que tudo isso?
O mundo parece tão largo e diverso!
No fundo, contudo,
Somos todos iguais:
Todos poeira de estrelas e galáxias,
Resquícios remendados e acrescidos
De tudo aquilo que fomos antes.
Oh mundo, vasto mundo,
Que tem tantas pessoas iguais
E tantas vidas distintas.

(20 Dez, 2012. Braga)

King's Cross

That hug
And the world stops with the train.
"Goodbye! And take care," she said.
"I love you so much!" the whole world heard.

(Dec 14th, 2012)


York Minster

The Winter Evensong:
The air freezes outside. Inside,
My soul is ablaze.


(Dec 13th, 2012)
~