Novas estações e novas faces,
Mais um começo do ciclo sem fim.
Um novo capítulo de um novo tomo
No mesmo livro de folhas em branco,
Vazias como as flores de cerejeira,
Que renascem as árvores mortas
Ao abraço morno do Sol vernal,
Como paixões que despedaçam
Corações empedrados em longos invernos
Ao esbarrar o Amor, por acaso,
Num tropeço de uma caminhada sem rumo.
E as flores desabrocham e caem;
As folhas em branco são escritas,
E todo livro recebe seu último verso.
Mas a árvore se lembra de cada broto,
Conhece o cheiro de cada pétala;
O escritor conhece cada capítulo,
E cada beijo de cada personagem
(Mesmo os jamais realizados.)
Novas estações e novas faces,
Só mais um começo do ciclo sem fim.
Mas o coração, esse nunca esquece.
Mostrando postagens com marcador poema. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador poema. Mostrar todas as postagens
31 de mar. de 2014
26 de mar. de 2014
Em breve.
Estavam Deus e seu filho esperando o eterno
Choques galácticos, expansões cósmicas, luz
Em todos os momentos, ausentes de sentidos,
Senhores do tempo, comandavam o início e o fim
Chama o Pai "Ó meu Filho cheio de amor fraterno
Venha observar o que o céu infinito reluz"
Responde o Filho altivo tal qual Deus de estudos
"Cá Estou senhor Pai eterno, que desejas de mim?"
"De toda criação há algo que lhe escondi
No tempo eterno e imortal que temos
Tudo é tão rápido que até nós perdemos
Momentos de beleza e tristeza sutis
Em breve minha maior criação surgirá
Tão breve enfim ela irá desabar
Mas mesmo tão curta ela sim haverá
De me dar tanto orgulho de tudo criar
Pois tudo, até agora
É momento de outrora
É reflexo da aurora
Do que está por vir
A partir deste instante
Nada é mais importante
Nada mais significante
Do que vem no horizonte
um segundo só
um momento
e todo um sentimento se faz presente
uma vida só
um ente
e toda eternidade lhe será presente".
E disse Deus:
"Faça-se a música!"
E fez-se deus.
G. T. Ramos (2014)
19 de mar. de 2014
κόσμος
(Via Lactea, vista da Terra)
"Verily at the first Chaos came to be, but next wide-bosomed Earth, the ever-sure foundations of all the deathless ones who hold the peaks of snowy Olympus, and dim Tartarus in the depth of the wide-pathed Earth, and Eros (Love), fairest among the deathless gods, who unnerves the limbs and overcomes the mind and wise counsels of all gods and all men within them. From Chaos came forth Erebus and black Night; but of Night were born Aether and Day, whom she conceived and bare from union in love with Erebus. And Earth first bare starry Heaven, equal to herself, to cover her on every side, and to be an ever-sure abiding-place for the blessed gods. And she brought forth long Hills, graceful haunts of the goddess-Nymphs who dwell amongst the glens of the hills. She bare also the fruitless deep with his raging swell, Pontus, without sweet union of love. But afterwards she lay with Heaven and bare deep-swirling Oceanus, Coeus and Crius and Hyperion and Iapetus, Theia and Rhea, Themis and Mnemosyne and gold-crowned Phoebe and lovely Tethys. After them was born Cronos the wily, youngest and most terrible of her children, and he hated his lusty sire." (Hesíodo) [1]
--
E eis que foi o Caos,
naquilo que ainda não Era.
E, num infinitésimo de segundo,
do Caos fez-se o Cosmos:
fez-se a Ordem majestática,
o fino Equilíbrio entre o Tudo e o Nada.
E foram os primeiros passos, violentos,
do ballet da nova Vida:
O tango compassado dos quarks,
grudando-se como casais em fogo,
devidamente unidos e sacramentados
pelas excêntricas Partículas de Deus.
E pôde o Universo então comungar
e os Deuses puderam surgir,
como movimentos de uma sinfonia
executada por uma orquestra auto-conduzida,
deliciando-se em cada pequena nota,
gozando cada um dos Versos (de muitos versos)
E na Ordem surgiu a Luz,
que viaja, tal caixeiro errante,
por mundos que ainda não São
e por mundos que já Foram,
levando memórias de uma Eternidade
Que jamais compreenderemos.
Pouco a pouco o tango virou bossa
e aos acordes menores da balada doce,
o Verso desabrochou em romance fervente:
quarks e léptons se entrelaçavam,
e a Vida explodia em novas formas,
Bailando e girando, e vibrando e brilhando.
E a bossa virou samba:
as novas Criaturas uniam-se, em êxtase,
em grandes enxames de poeira cósmica
cada qual sambando seu próprio enredo.
Dessa celebração da vida, nasciam,
ejaculadas do seio de Hera, as galáxias.
E desse Carnaval cósmico
nasceram os foliões, os cruzados da Luz
a iluminar e aquecer aquela escuridão fria;
Nasceram as estrelas, e, de sua poeira,
surgiram planetas, asteroides,
e tudo mais de opaco que perambula os Céus.
Surgiram hidrogênio, hélio,
lítio, carbono, ferro, e toda sorte de matéria:
Do fogo ensandecido daqueles foliões,
formou-se cada pedacinho ínfimo,
cada pequena parte que constitui
do grosso vulcão à delicada rosa.
Como respingos do fértil seio de Hera,
desenvolveu-se o Verso, em toda sua riqueza;
do sorriso singelo de um bebê
à ferocidade de uma supernova em exaustão,
somos todos parte de um eterno infinito;
de um eterno infinito que é parte de nós.
--
[1] Hesíodo. Theogonia. Tradução de Hugh G. Evelyn-White (1914). ll. 116-138. Disponível em: http://www.sacred-texts.com/cla/hesiod/theogony.htm. Acessado em 16 de março de 2014. (100 anos!)
1 de mar. de 2014
Bianco
Em branco,
Passaram-se aqueles dias;
E aquelas semanas também
Em branco passaram.
No branco dos dias nublados,
Com seu peso escuro,
E sua radiância ofuscante;
No branco da neve acumulada,
Afofada por pés despreocupados,
Indiferentes àquela beleza rara
Apressados em achar abrigo
E aquecerem-se da Natureza.
Passaram no branco do gohan:
Recém cozido e quente, fumegando
Na branca porcelana made in China.
E na brancura do leite,
Prestes a ser macchiato
Num acalentador cappuccino.
Em branco,
Passaram-se estes últimos dias,
E estas últimas semanas.
Passou o último Inverno.
Passaram-se aqueles dias;
E aquelas semanas também
Em branco passaram.
No branco dos dias nublados,
Com seu peso escuro,
E sua radiância ofuscante;
No branco da neve acumulada,
Afofada por pés despreocupados,
Indiferentes àquela beleza rara
Apressados em achar abrigo
E aquecerem-se da Natureza.
Passaram no branco do gohan:
Recém cozido e quente, fumegando
Na branca porcelana made in China.
E na brancura do leite,
Prestes a ser macchiato
Num acalentador cappuccino.
Em branco,
Passaram-se estes últimos dias,
E estas últimas semanas.
Passou o último Inverno.
25 de out. de 2013
弟
Abre tuas asas,
E voa longe, longe;
O mais alto que puder:
O mundo inteiro brilha apenas para ti
E se abre a teus pés.
Basta ter a coragem de pular.
15 de set. de 2013
A Criação
E disse DEUS
"Faça-se a música"
E fez-se DEUS
"Faça-se a música"
E fez-se DEUS
15 de jun. de 2013
El hombre invisible
"Yo me río,
me sonrío,
de los viejos poetas,
yo adoro toda
la poesía escrita,
todo el rocío,
luna, diamante, gota
de plata sumergida
que fue mi antiguo hermano
agregando a la rosa,
pero
me sonrío,
siempre dicen "yo",
a cada paso
les sucede algo,
es siempre "yo",
por las calles
solo ellos andan
o la dulce que aman,
nadie más:
no pasan pescadores,
ni libreros;
no pasan albañiles,
nadie se cae
de un andamio,
nadie sufre,
nadie ama,
solo mi pobre hermano,
el poeta,
a él le pasan
todas las cosas
y a su dulce querida,
nadie vive
sino él solo,
nadie llora de hambre
o de ira,
nadie sufre en sus versos
porque no puede
pagar el alquiler,
a nadie en poesía
echan a la calle
con camas y con sillas
y en las fábricas
tampoco pasa nada,
no pasa nada,
se hacen paraguas, copas,
armas, locomotoras,
se extraen minerales
rascando el infierno,
hay huelga,
vienen soldados,
disparan,
disparan contra el pueblo,
es decir,
contra la poesía,
y mi hermano
el poeta
estaba enamorado,
o sufría
porque sus sentimientos
son marinos,
ama los puertos
remotos, por sus nombres,
y escribe sobre océanos
que no conoce,
junto a la vida, repleta
como el maíz de granos,
él pasa sin saber
desgranarla,
él sube y baja
sin tocar la tierra,
o a veces
se siente profundísimo
y tenebroso,
él es tan grande
que no cabe en sí mismo,
se enreda y desenreda,
se declara maldito,
lleva con gran dificultad la cruz
de las tinieblas,
piensa que es diferente
a todo el mundo,
todos los días come pan
pero no ha visto nunca
un panadero
ni ha entrado a un sindicato
de panificadores,
y así mi pobre hermano
se hace oscuro,
se tuerce y se retuerce
y se halla
interessante.
interessante,
esta es la palabra,
yo no soy superior
a mi hermano
pero sonrío,
porque voy por las calles
y sólo yo no existo,
la vida corre
como todos los ríos,
yo soy el único
invisible,
no hay misteriosas sombras,
no hay tinieblas,
todo el mundo me habla,
me quieren contar cosas,
me hablan de sus parientes,
de sus miserias
y de sus alegrías,
todos pasan y todos
me dicen algo,
y cuántas cosas hacen!
cortan maderas,
suben hilos eléctricos,
amasan hasta tarde en la noche
el pan de cada día,
con una lanza de hierro
perforan las entrañas
de la tierra
y convierten el hierro
en cerraduras,
suben al cielo y llevan
cartas, sollozos, besos,
en cada puerta
hay alguien,
nace alguno,
o me espera la que amo,
y yo paso y las cosas
me piden que las cante,
yo no tengo tiempo,
debo pensar en todo,
debo volver a casa,
pasar al Partido,
qué puedo hacer,
todo me pide
que hable,
todo me pide
que cante y cante siempre,
todo está lleno
de sueños y sonidos,
la vida es una caja
llena de cantos, se abre
y vuela y viene
una bandada
de pájaros
que quieren contarme algo
descansando en mis hombros,
la vida es una lucha
como un río que avanza
y los hombres
quieren decirme,
decirte,
por qué luchan,
si mueren,
por qué mueren,
y yo paso y no tengo
tiempo para tantas vidas,
yo quiero
que todos vivan
en mi vida
y canten en mi canto,
yo no tengo importancia,
no tengo tiempo
para mis asuntos,
ne noche y de día
debo anotar lo que pasa,
y no olvidar a nadie.
Es verdad que de pronto
me fatigo
y miro las estrellas,
me tiendo en el pasto, pasa
un insecto color de violín,
pongo el brazo
sobre un pequeño seno
o bajo la cintura
de la dulce que amo,
y miro el terciopelo
duro
de la noche que tiembla
con sus constelaciones congeladas,
entonces
siento subir a mi alma
la ola de los misterios,
la infancia,
el llanto en los rincones,
la adolescencia triste,
y me da sueño,
y duermo
como un manzano,
me quedo dormido
de inmediato
con las estrellas o sin las estrellas,
con mi amor o sin ella,
y cuando me levanto
se fue la noche,
la calle ha despertado antes que yo,
a su trabajo
van las muchachas pobres,
los pescadores vuelven
del océano,
los mineros
van con zapatos nuevos
entrando en la mina,
todo vive,
todos pasan,
andan apresurados,
y yo tengo apenas tiempo
para vestirme,
yo tengo que correr:
ninguno puede
pasar sin que yo sepa
adónde va, qué cosa
le ha sucedido.
No puedo
sin la vida vivir,
sin el hombre ser hombre
y corro y veo y oigo
y canto,
las estrellas no tienen
nada que ven conmigo
la soledad no tiene
flor ni fruto.
Dadme para mi vida
todas las vidas,
dadme todo el dolor
de todo el mundo
yo voy a transformarlo
en esperanza.
Dadme
todas las alegrías,
aun las más secretas,
porque si así no fuera,
cómo van a saberse?
Yo tengo que contarlas,
dadme
las luchas
de cada día
porque ellas son mi canto,
y así andaremos juntos,
codo a codo,
todos los hombres,
mi canto los reúne:
el canto del hombre invisible
que canta con todos los hombres."
(Pablo Neruda, Ms. Sant'Angelo, Ischia, 24.6.1952)
4 de abr. de 2013
Tudo à sua espera
Poema do poeta inglês David Whyte, intitulado "Tudo à sua espera". Parte do livro de mesmo nome.
(Tradução livre)
Original (available here):
This poem showed up in this Easter's dharma talk themed "What gets us in conflict," by the meditation teacher Daniel Bowling at the Insight Meditation Center. Available in this link.
(Tradução livre)
Seu maior erro é atuar nessa peça
como se estivesse sozinho. Como se a vida
fosse um crime perfeito em progresso,
sem testemunhas de cada pequeno detalhe.
Sentir-se abandonado é negar a intimidade
com nossas vizinhanças. Por certo mesmo você,
às vezes, já sentiu a grande platéia;
sua presença inflada e suas vozes em coro,
sufocando sua voz solitária.
Você deve perceber o modo como o detergente
te dá poderes especiais, ou como
o trinco na janela te oferece liberdade.
Atenção é a disciplina oculta da familiaridade.
As escadas são suas conselheiras quanto às coisas que virão,
e as portas sempre estiveram ali para te assustar,
e para te convidar. O pequeno speaker do telefone
é a porta dos seus sonhos para a divindade.
Coloque de lado o peso de sua solidão
e relaxe na conversa. A chaleira está cantando,
mesmo enquanto te serve um chá; e as panelas
já deixaram de lado sua indiferença arrogante e
finalmente viram o bom em você. Todos os pássaros
e criaturas do mundo são indizivelmente
elas mesmas. Tudo está à sua espera.
--
Original (available here):
Your great mistake is to act the drama
as if you were alone. As if life
were a progressive and cunning crime
with no witness to the tiny hidden
transgressions. To feel abandoned is to deny
the intimacy of your surroundings. Surely,
even you, at times, have felt the grand array;
the swelling presence, and the chorus, crowding
out your solo voice You must note
the way the soap dish enables you,
or the window latch grants you freedom.
Alertness is the hidden discipline of familiarity.
The stairs are your mentor of things
to come, the doors have always been there
to frighten you and invite you,
and the tiny speaker in the phone
is your dream-ladder to divinity.
Put down the weight of your aloneness and ease into
the conversation. The kettle is singing
even as it pours you a drink, the cooking pots
have left their arrogant aloofness and
seen the good in you at last. All the birds
and creatures of the world are unutterably
themselves. Everything is waiting for you.
This poem showed up in this Easter's dharma talk themed "What gets us in conflict," by the meditation teacher Daniel Bowling at the Insight Meditation Center. Available in this link.
Marcadores:
bruno,
english,
outros autores,
poema,
tradução
31 de mar. de 2013
Pascha
Pendurado na cruz
Ele é apenas Um:
Inteiro, completo;
Sem divisões ou partes.
É um, e é três, quatro; 6 bilhões.
É o pastor homofóbico que odeia,
E o casal homosexual que ama;
O monge budista com porrete nas mãos
E o muçulmano ensanguentado caído no chão.
É o adolescente confuso e perdido
Que assassina uma família por medo;
E é o padre que lava e beija os pés desse jovem
Enquanto carrega o peso do mundo das costas.
Pendurado na cruz,
Ele é apenas Um,
Que também é três e bilhões mais:
O monge que se imola no Tibete
E os oficiais chineses que o espancam;
É o político que desvia recursos,
E a doméstica que luta por direitos trabalhistas.
É o mendigo que morre queimado,
E é também o jovem que o mata.
Quem é aquele pendurado na cruz?
É aquele que apenas É;
E é apenas um - completo, inteiro.
É você e sou eu: apenas Um
Do tamanho do Universo.
Ele é apenas Um:
Inteiro, completo;
Sem divisões ou partes.
É um, e é três, quatro; 6 bilhões.
É o pastor homofóbico que odeia,
E o casal homosexual que ama;
O monge budista com porrete nas mãos
E o muçulmano ensanguentado caído no chão.
É o adolescente confuso e perdido
Que assassina uma família por medo;
E é o padre que lava e beija os pés desse jovem
Enquanto carrega o peso do mundo das costas.
Pendurado na cruz,
Ele é apenas Um,
Que também é três e bilhões mais:
O monge que se imola no Tibete
E os oficiais chineses que o espancam;
É o político que desvia recursos,
E a doméstica que luta por direitos trabalhistas.
É o mendigo que morre queimado,
E é também o jovem que o mata.
Quem é aquele pendurado na cruz?
É aquele que apenas É;
E é apenas um - completo, inteiro.
É você e sou eu: apenas Um
Do tamanho do Universo.
--
(Switchfoot - Twenty-four)
24 de mar. de 2013
Sappho
Terminei esses dias de ler uma coletânea de fragmentos de poemas de Sappho, poetisa grega do século VI a.C. Gostei tanto que resolvi registrar alguns trechos aqui (obrigado ao Project Gutenberg por disponibilizar o livro de graça, e pela excelente tradução do poeta Bliss Carman!). Enjoy!
Que hajam guirlandas, Dica,
Em teus adorados cabelos;
E delicados raminhos em flor,
Tecidos por tuas mãos macias.
Pois aquele que é coroado por flores
Goza do favor dos deuses,
Que não têm bons olhos
Para os não-adornados.
--
Cresce uma nespereira
Na frente da casa do meu amor.
Lá, ao longo do dia,
O vento faz um som agradável.
E quando chega o entardecer,
Sentamo-nos juntos ao crepúsculo,
E observamos as estrelas
Aparecendo no azul silencioso.
--
Houve um tempo em que repousavas em meu colo,
Enquanto o longínguo luar prateado
Percorria pelas planícies, com aquela paixão pura
Toda tua.
Agora, a Lua se foi. As Plêiades
Já passaram, e a escuridão da noite se vai;
Escorrem as horas, e em meu leito
Encontro-me só.
--
Ah, o que sou eu senão uma tormenta:
Obstinada, impetuosa, quebrada,
Como o clamor das águas esbravejado
No desfiladeiro azul?
Ah, e o que és tu senão uma fronde de samambaia,
Molhada pelo respingar do rio:
Timida, adorável, frágil,
Escondida na reentrância do rochedo?
Contudo, não somos por um breve dia,
Enquanto o Sol dorme na montanha,
Selvagens, amante e amado,
Seguros nos braços de Pan?
--
Amor, deixa o vento gritar
Na montanha negra,
Dobrando os freixos
E as cicutas altas;
Com a voz estrondante
De legiões trovejantes,
O quanto te adoro.
Deixa que a rouca torrente
Do desfiladeiro azul,
Murmurando ferozmente
Da cinza névoa
Do caos primordial,
Jamais cesse de proclamar
O quanto te adoro.
Deixa que o longo ritmo
Das vagas espumantes,
Quebrando e rugindo
No branco litoral,
Titânicas e incansáveis,
Conte, enquanto o mundo sobreviver,
O quanto te adoro.
Amor, deixa que o chamado claro
Do grilo silvestre,
A mais frágil das criaturas,
Verde como a grama jovem,
Marque com seu trilo
Ressonante tom agudo,
O quanto te adoro
Deixa que o alegre canto da cotovia
Pela campina,
Aquela doce lírica
De prata derretida,
Seja como um sinal
Para os mortais que a ouvirem
Do quanto te adoro.
Mas, mais do que todos os sons;
Mais certo, mais sereno,
Mais cheio de paixão
E exultação;
Deixa que o sussurro apressado
Em teu próprio coração confesse
O quando eu te adoro.
--
"Quem foi Atthis?" - homens perguntarão,
Quando o mundo for velho, e o tempo
Tiver cumprido sem pressa
O estranho destino dos Homens.
Porventura, naquela era longinqua,
Alguém há de encontrar essas canções prateadas
Com sua carga humana, e descobrir
Que bela amante Sappho foi!
--
Será que os homens se lembrarão de nós
Nos dias que estão por vir;
De tua adorável beleza
E do meu amor por ti?
Tu, o jacinto que cresce
Por um rio de águas calmas;
Eu, o reflexo aqueluzente
E o clarão disforme.
--
Ninguém falará de Sappho;
De seus amores,
E do amor que ela lhes deu:
Alegrias, dias e beleza;
Sonatas de flauta e rosas,
Canções e vinho e gargalhadas.
Será que ninguém, ao contemplar, dirá:
"E contudo, mesmo com todas as rosas,
E todas as flautas e amores;
Não tenha dúvidas que ela sentia-se só.
Só como o mar, cuja cadência
Assombra o mundo desde sempre."
--
Como um lírio vermelho nos gramados da campina,
Embalado pelo vento e queimando à luz do Sol,
Eu vi a ti, onde a cidade se engasga com o tráfego,
Sustentando entre os transeúntes tua beleza,
Imaculada, selvagem e delicada como uma flor.
--
Veja, onde os brancos
Garanhões de Poseidon
Calcam com truculência
A costa flutuante!
Mais velha que Saturno,
Mais velha que Réia;
Aquela canção lúgubre
De cheias e vazantes,
Num amplo ritmo
Incessante, eterno
Continua marcando o tempo
De tudo que é mortal.
Quantos amantes
Não foram por ela ninados,
Embalados ao descanso
Com as flores maduras.
Antes por nosso prazer,
Esse dourado Verão
Caminhava pelos milharais
Em gracioso esplendor!
Quantos amantes
Não serão chamados por ela,
Nos longos dias de Primavera
Com o passar das eras,
Quando todos os nossos devaneios
Forem esquecidos,
E não houver mais lembranças
Sequer da tua beleza!
Eles também adormecerão
Em lugares quietos,
E hão de ser surpreendidos
Pelos poderosos sons do mar.
----
English source:
X
Let there be garlands, Dica,
Around thy lovely hair.
And supple sprays of blossom
Twined by thy soft hands.
Whoso is crowned with flowers
Has favour with the gods,
Who have no kindly eyes
For the ungarlanded.
XIX
There is a medlar-tree
Growing in front of my lover's house,
And there all day
The wind makes a pleasant sound.
And when the evening comes,
We sit there together in the dusk,
And watch the stars
Appear in the quiet blue.
XXII
Once you lay upon my bosom,
While the long blue-silver moonlight
Walked the plain, with that pure passion
All your own.
Now the moon is gone, the Pleiads
Gone, the dead of the night is going;
Slips the hour, and on my bed
I lie alone.
XXIX
Ah, what am I but a torrent,
Headstrong, impetuous, broken,
Like the spent clamour of waters
In the blue canyon?
Ah, what art thou but a fern-frond,
Wet with blown spray from the river,
Diffident, lovely, sequestered,
Frail on the rock-ledge?
Yet, are we not for one brief day,
While the sun sleeps on the mountain,
Wild-hearted lover and loved one,
Safe in Pan's keeping?
XXXI
Love, let the wind cry
On the dark mountain,
Bending the ash-trees
And the tall hemlocks,
With the great voice of
Thunderous legions,
How I adore thee.
Let the hoarse torrent
In the blue canyon,
Murmuring mightily
Out of the grey mist
Of primal chaos,
Cease not proclaiming
How I adore thee.
Let the long rhythm
Of crunching rollers,
Breaking and bellowing
On the white seaboard,
Titan and tireless,
Tell, while the world stands,
How I adore thee.
Love, let the clear call
Of the tree-cricket,
Frailest of creatures,
Green as the young grass,
Mark with his trilling
Resonant bell-note,
How I adore thee.
Let the glad lark-song
Over the meadow,
That melting lyric
Of a molten silver,
Be for a signal
To listening mortals,
How I adore thee.
But more than all sounds,
Surer, serener,
Fuller with passion
And exultation,
Let the hushed whisper
In thine own heart say,
How I adore thee.
XXXII
Heart of mine, if all the altars
Of the ages stood before me,
Not one pure enough nor sacred
Could I find to lay this white, white
Rose of love upon.
I who am not great enough to
Love thee with this mortal body
So impassionate with ardour,
But oh, not too small to worship
While the sun shall shine,
I would build a fragrant temple
To thee, in the dark green forest,
Of red cedar and fine sandal,
And there love thee with sweet service
All my whole life long.
I would freshen it with flowers,
And the piney hill-wind through it
Should be sweetened with soft fervours
Of small prayers in gentle language
Thou wouldst smile to hear.
And a tinkling Eastern wind-bell,
With its fluttering inscription,
From the rafters with bronze music
Should retard the quiet fleeting
Of uncounted hours.
And my hero, while so human,
Should be even as the gods are,
In that shrine of utter gladness,
With the tranquil stars above it
And the sea below.
XXXIV
"Who was Atthis?" men shall ask,
When the world is old, and time
Has accomplished without haste
The strange destiny of men.
Haply in that far-off age
One shall find these silver songs,
With their human freight, and guess
What a lover Sappho was.
XXXVIII
Will not men remember us
In the days to come hereafter,-
Thy warm-coloured loving beauty
And my love for thee?
Thou, the hyacinth that grows
By a quiet-running river;
I, the watery reflection
And the broken gleam.
LIX
Will none say of Sappho,
Speaking of her lovers,
And the love they gave her,-
Joy and days and beauty,
Flute-playing and roses,
Song and wine and laughter,-
Will none, musing, murmur,
"Yet, for all the roses,
All the flutes and lovers,
Doubt not she was lonely
As the sea, whose cadence
Haunts the world for ever."
LXX
My lover smiled, "O friend, ask not
The journey's end, nor whence we are.
That whistling boy who minds his goats
So idly in the grey ravine,
"The brown-backed rower drenched with spray,
The lemon-seller in the street,
And the young girl who keeps her first
Wild love-tryst at the rising moon,-
"Lo, these are wiser than the wise.
And not for all our questioning
Shall we discover more than joy,
Nor find a better thing than love!
Let pass the banners and the spears,
The hate, the battle, and the greed;
For greater than all gifts is peace,
And strength is in the tranquil mind."
XCII (fragment)
Like a red lily in the meadow grasses,
Swayed by the wind and burning in the sunlight,
I saw you, where the city chokes with traffic,
Bearing among the passers-by your beauty,
Unsullied, wild, and delicate as a flower.
XCV
Hark, where Poseidon's
White racing horses
Trample with tumult
The shelving seaboard!
Older than Saturn,
Older than Rhea,
That mournful music,
Falling and surging
With the vast rhythm
Ceaseless, eternal,
Keeps the long tally
Of all things mortal.
How many lovers
Hath not its lulling
Cradled to slumber
With the ripe flowers,
Ere for our pleasure
This golden summer
Walked through the corn-lands
In gracious splendour!
How many loved ones
Will it not croon to,
In the long spring-days
Through coming ages,
When all our day-dreams
Have been forgotten,
And none remembers
Even thy beauty!
They too shall slumber
In quiet places,
And mighty sea-sounds
Call them unheeded.
Marcadores:
bruno,
english,
outros autores,
poema,
tradução
22 de mar. de 2013
Lenting
Clean mind, pure heart:
Touching skin, bones and marrow.
Watch the cross disappear,
As sakura trees bloom.
Touching skin, bones and marrow.
Watch the cross disappear,
As sakura trees bloom.
10 de mar. de 2013
9 de mar. de 2013
Marching
All the gods wake from their white sleep
And bloom in full pink:
I can't help bowing in awe
And offering a prayer.
--
(Plum tree at Ueno park) |
Quack quack!
The sound of ten thousand dharmas
All echoing in small ripples
On the big, boundless, crystal lake
All echoing in small ripples
On the big, boundless, crystal lake
3 de mar. de 2013
Call me by my true names
Hoje, enquanto fazia uma das atividades mais contemplativas do mundo (lavar louça), ouvi um poema do mestre vietnamita Thich Nhat Hanh no podcast do Insight Meditation Center que me chamou bastante a atenção. É um poema escrito nos anos 80, época em que os problemas da fome e das guerrilhas na África conquistavam a mídia. Nas palavras do autor, "esse é um poema sobre três de nós. A primeira pessoa é uma garota de doze anos: um dos refugiados cruzando o Golfo de Sião em um pequeno barco que, após ser estuprada por um pirata, atirou-se ao mar. A segunda é o pirata, nascido em uma vila remota na Tailândia. E a terceira pessoa sou eu. Eu estava muito irritado, claro, mas não podia simplesmente tomar partido contra o pirata: se eu pudesse, teria sido mais fácil, mas não pude. Eu percebi que, se eu tivesse nascido em seu vilarejo e experimentado uma vida similar à dele - em termos econômicos, educacionais, etc. - seria bastante provável que eu também tivesse me tornado um pirata. Portanto, não é fácil escolher um lado. Do sofrimento, escrevi esse poema. Se chama 'me chame pelos meus nomes verdadeiros,' porque eu tenho muitos nomes e, quando me chamam por um deles, devo simplesmente dizer 'sim.'"
Não digas que partirei amanhã:
mesmo hoje ainda estou chegando.
Olhe bem: a cada segundo estou chegando
para ser um botão num galho de primavera;
para ser um pequeno pássaro, com suas asas ainda frágeis,
aprendendo a cantar em meu novo ninho;
uma lagarta no coração de uma flor;
e uma jóia oculta numa rocha.
Eu ainda chego, para rir e para chorar;
para ter medo, e para ter esperança.
O ritmo do meu coração é o nascimento e a morte
de tudo o que vive.
Sou a libélula, metamorfoseando
sobre espelho d'água do rio.
Sou o pássaro,
que mergulha para engolí-la.
Sou o sapo nadando alegremente
nas águas límpidas de uma lagoa.
Sou a cobra-d'água,
que silenciosamente se alimenta dele.
Sou a criança da Uganda - pele e ossos;
minhas pernas, finas como varas de bambu.
Sou o mercador de armas,
vendendo a morte para a Uganda.
Sou a menina de doze anos,
refugiada em um pequeno barco,
que se joga no oceano
após ser estuprada por um pirata.
E sou o pirata:
meu coração ainda incapaz
de enxergar e amar.
Sou um membro do politburo,
com as mãos cheias de poder.
E sou o homem simples que deve pagar
seu "débito de sangue" ao seu povo,
morrendo lentamente em um campo de trabalho forçado.
Minha alegria é como a primavera: tão quente
que faz flores brotarem por toda a Terra.
Minha dor, como um rio de lágrimas
tão vasto que preenche todos os quatro oceanos.
Por favor, me chame pelos meus nomes verdadeiros,
para que eu possa ouvir todos meus gritos e gargalhadas de uma só vez;
para que eu possa perceber que minha alegria e minha dor são uma coisa só.
Por favor, me chame pelos meus nomes verdadeiros,
para que eu possa acordar,
e que a porta do meu coração
possa permanecer aberta;
a porta da compaixão.
(Thich Nhat Hanh)
--
Don't say that I will depart tomorrow --
even today I am still arriving.
Look deeply: every second I am arriving
to be a bud on a Spring branch,
to be a tiny bird, with still-fragile wings,
learning to sing in my new nest,
to be a caterpillar in the heart of a flower,
to be a jewel hiding itself in a stone.
I still arrive, in order to laugh and to cry,
to fear and to hope.
The rhythm of my heart is the birth and death
of all that is alive.
I am the mayfly metamorphosing
on the surface of the river.
And I am the bird
that swoops down to swallow the mayfly.
I am the frog swimming happily
in the clear water of a pond.
And I am the grass-snake
that silently feeds itself on the frog.
I am the child in Uganda, all skin and bones,
my legs as thin as bamboo sticks.
And I am the arms merchant,
selling deadly weapons to Uganda.
I am the twelve-year-old girl,
refugee on a small boat,
who throws herself into the ocean
after being raped by a sea pirate.
And I am the pirate,
my heart not yet capable
of seeing and loving.
I am a member of the politburo,
with plenty of power in my hands.
And I am the man who has to pay
his "debt of blood" to my people
dying slowly in a forced-labor camp.
My joy is like Spring, so warm
it makes flowers bloom all over the Earth.
My pain is like a river of tears,
so vast it fills the four oceans.
Please call me by my true names,
so I can hear all my cries and my laughter at once,
so I can see that my joy and pain are one.
Please call me by my true names,
so I can wake up,
and so the door of my heart
can be left open,
the door of compassion.
--
(Fonte: http://www.allspirit.com/names.html)
28 de fev. de 2013
Arrivederci
Under the white cassock
A fragile old body
And a burning heart
Exploding love.
A living Christ:
A living Buddha.
26 de fev. de 2013
7 de fev. de 2013
King's Cross
That hug
And the world stops with the train.
"Goodbye! And take care," she said.
"I love you so much!" the whole world heard.
(Dec 14th, 2012)
And the world stops with the train.
"Goodbye! And take care," she said.
"I love you so much!" the whole world heard.
(Dec 14th, 2012)
31 de jan. de 2013
kotoba
Flutuantes
Palavras
Voam sem rumo
Dançam sem ritmo
E caem no esquecimento
Pois o que é que dura para sempre?
Flutuantes
Palavras
Como espumas no mar
Navegam sem direção
E chegam sabe-se lá onde
(E sabe-se lá quando.)
Flutuantes
Palavras
Voam longe, longe.
(Mas um dia chegam lá!)
Palavras
Voam sem rumo
Dançam sem ritmo
E caem no esquecimento
Pois o que é que dura para sempre?
Flutuantes
Palavras
Como espumas no mar
Navegam sem direção
E chegam sabe-se lá onde
(E sabe-se lá quando.)
Flutuantes
Palavras
Voam longe, longe.
(Mas um dia chegam lá!)
Assinar:
Postagens (Atom)