31 de mai. de 2010

O Corvo e a Escrivaninha

Por que um corvo é como uma escrivaninha,
Se um corvo tem penas e uma escrivaninha não faz ninhos?
Se é impossível escrever em cima de um corvo,
ou tentar ler sinais vendo escrivaninhas voadoras?
Se escrivaninhas não botam ovos,
e bicos de corvos não fazem bons porta-canetas?

Por que um corvo é como uma escrivaninha,
Se um corvo possivelmente comeria todas aquelas
velhas cartas de amor platônico que eu te escrevia?
(coisa que, note, uma escrivaninha jamais ousaria fazer!)

Por que um corvo é como uma escrivaninha,
Se uma escrivaninha não faz o mesmo som daquele grasnar
desafinado que saia da minha boca ao cantar "músicas"
que (eu achava que) escrevia para você?

Por que um corvo é como uma escrivaninha,
Se, em sã consciência, jamais um corvo se permitiria servir
de suporte a uma cabeça pesada de pensamentos
e de pretensos futuros que sequer deram-se o trabalho de ocorrer?

Por que um corvo é como uma escrivaninha,
Se escrivaninhas não morrem como todas emoções,
ou envelhecem como aquelas palavras salvas em blogs antigos,
em corações antigos, em sonhos antigos?

Por que um corvo é como uma escrivaninha?
Porque uma escrivaninha permite ilusões, e um corvo caça;
como a realidade que caça e destrói os sonhos mais incríveis
sonhados às madrugadas nas velhas escrivaninhas rabiscadas.

E o que é a realidade, senão produto dos sonhos?
Por que esse paradoxo irônico da Natureza?
Para que um corvo seja como uma escrivaninha.
Apenas por isso.

27 de mai. de 2010

つきのバレエ

月。満月今夜
星の明朗は薄れている
暗闇裏に月は一人で舞う
月、僕と一緒に舞って下さい!


26 de mai. de 2010

Que eu renasça um cometa!

Ah, que eu renasça um cometa!
Ou talvez um planeta perdido nos confins cósmicos
Dormir ao relento do universo em movimento
Com seus quasares pulsando em frenesi
E as anãs brancas iluminando o cenário multiétnico
Poder sentir as chuvas cósmicas
Sem medo da ultraviolência dos raios estelares
Nem da escuridão dos buracos negros
Poder observar em êxtase as gigantes vermelhas
E o esplendor das supernovas radiantes

É, bom mesmo seria ser um cometa,
Viajante errante pelas onze dimensões universais
Conhecedor dos centros e das periferias
Um verdadeiro monge nômade espacial
Sem identidade, sem egos, sem desejos
Apenas a simples missão de experimentar
Livre das barreiras do espaço
Livre das barreiras do tempo
Apenas ele mesmo, sem ser em si mesmo "ele"
E sendo, ao mesmo tempo, o Universo inteiro.

Ah, Deus, que eu renasça um cometa!

24 de mai. de 2010

19 de mai. de 2010

Sobre o "Sofrimento" (II)

"Mas aos que sofrem, Ele os livra em meio ao sofrimento; em sua aflição Ele lhes fala." (Jó 36:15)
"Disse o Senhor: 'De fato tenho visto a opressão sobre o meu povo no Egito, tenho escutado o seu clamor, por causa dos seus feitores, e sei quanto eles estão sofrendo. Por isso, desci para livrá-los das mãos dos egípcios e tirá-los daqui para uma terra boa e vasta, onde manam leite e mel (...)'" (Ex 3:7-8)

Quando procuramos por sofrimento na Bíblia, nos deparamos com uma vastidão de material para estudar. De fato, se pudéssemos visualizar em imagens e ouvir o Velho Testamento (VT), provavelmente não seria algo muito diferente de rios de sangue e súplicas desesperadas (seria como assistir a um programa de jornalismo policial, talvez?). E note que isso não é exclusividade do VT: o Novo Testamento (NT) está cheio de relatos de sofrimentos e "maus bocados" pelos quais passaram os apóstolos.

Se analisarmos a etimologia das palavras que a Bíblia traduz como "sofrimento", chegaremos à conclusão de que a barra era realmente pesada. A palavra em hebraico traduzida como sofrimento/aflição é עֳנִי (onii), derivada do verbo עָנָה (anah) que - de modo geral - significa "ser oprimido", "ser colocado para baixo"; e tem sua origem relacionada à ação de arar a terra. Como comentei no post anterior, o sofrimento duhkah estava relacionado ao desalinho do eixo; já o sofrimento anah está relacionado à sensação de ser arado. Tenso, né? Dessa forma, num contexto cristão do VT, o sofrimento é algo sensível tanto física quanto espiritualmente. É aflição mesmo, no sentido mais profundo da palavra.

No Novo Testamento, uma das palavras mais encontradas para designar sofrimento é πάθημα (pathema), derivada de πάθος (pathos) - mesma raiz da palavra paixão. Pathema difere de pathos apenas por ser um termo mais concreto e específico. Na Grécia Antiga, pathos tinha uma significância tanto positiva quanto negativa, mas no NT é quase invariavelmente ligado à coisas negativas. Seguem exemplos do pathema:

"Considero que nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada." (Rom 8:18)

"Pois assim como os sofrimentos de Cristo transbordam sobre nós, também por meio de Cristo transborda a nossa consolação" (2Cor 1:5)

"Ao levar muitos filhos à glória, convinha que Deus, por causa de quem e por meio de quem tudo existe, tornasse perfeito, mediante o sofrimento, o autor da salvação deles." (Heb 2-10)

O pathema grego está, então, intimamente relacionado às emoções. O sofrimento expresso no NT, portanto, tende mais ao sofrimento emocional do que aquele do VT. Isso pode ser compreendido em termos históricos, se considerarmos o contexto em que o povo hebreu surgiu e existiu na época antiga. Era um povo constantemente escravizado, envolvido em batalhas; com uma história banhada a sangue. Sua divindade, portanto, precisava desempenhar um papel guerreiro - era um Deus herói, que ouvia os gritos de dor, que sentia em Si mesmo as aflições físicas do povo-escravo e Se erguia para devastar e destroçar os inimigos.

Na época do Novo Testamento, a cultura judaica estava inserida em um ambiente mais civilizado, e creio que não experimentava tanto derramamento de sangue quanto nos tempos arcaicos. O sofrimento, então, assume uma conotação mais introspectiva: o foco não está nas lamentações do físico, mas do espiritual (não esquecendo aqui, obviamente, da perseguição dos apóstolos da Igreja Primitiva, nem as próprias molestações que Jesus sofreu antes e ao longo da crucificação).

Qual a raiz do sofrimento, para um cristão? Se pensarmos no pathema, poderíamos vislumbrar uma raiz relacionada ao pathos: à paixão, ao apego. Se nos apegamos a algo, se temos um sentimento forte, isso pode nos levar ao sofrimento: sofrimento por não ter aquilo que queremos, e sofrimento por pensar em perder aquele objeto de nossa paixão. Esse tipo de sentimento está intimamente relacionado ao ego. Só há paixão, desejo e apego se há um "eu" para fazer usufruto do objeto do desejo. Nossa própria noção de "eu" se confunde com as coisas que possuímos e às quais nos agarramos: eu sou advogado, eu tenho um carro, eu tenho uma esposa e três filhos, eu tenho uma casa na praia, eu isso, eu aquilo, etc. Quanto mais se tem, mais se tem a perder também e - por consequência - mais sofrimento em potencial. E, também, quanto mais se tem, mais se quer ter, e mais o ego é fortalecido.

Esse conceito de sofrimento devido ao fortalecimento do ego está diretamente relacionado, na teologia Cristã, à separação de Deus. Quando estamos separados de Deus (o que, em última análise, é impossível), nos sentimos vazios e tentamos preencher esse vazio construindo uma imagem de nós mesmos; mas isso nada mais é do que juntar tijolos sobre uma base fraca que invariavelmente vai ceder: quanto mais tijolos, maior o peso a sustentar e, consequentemente, mais estrago fará a queda. Fortalecer o ego é uma armadilha, que não trará nada além de mais sofrimento. Jesus disse (Jo 12:24) "Digo-lhes verdadeiramente que, se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, continuará ele só. Mas se morrer, dará muito fruto." E, ainda: "Bem aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos Céus" - 'pobres em espírito' concerne exatamente à pobreza espiritual, que é a realização de que não somos suficientes, porém dependentes e responsáveis uns dos outros e uns pelos outros. Daí implica na atitude de ausência de sentimento de posse, de apego, diante de todas as coisas. Isso é morrer.

Paulo também afirma (Rom 8:13) que "se [vocês], pelo Espírito, fizerem morrer os atos do corpo, viverão." Portanto, é necessário morrer para viver; é necessário morrer para ter comunhão com Deus, em sua plenitude.

Matar o ego: esse é o caminho ensinado por Jesus para das cabo ao sofrimento. É matando o ego que se permite o nascimento do Espírito, que é o amor. O amor incondicional e universal de Deus. E é esse amor que move a vida, e nos faz, verdadeiramente, habitar o Reino dos Céus. :)

16 de mai. de 2010

Sobre o "Sofrimento"

Há mais ou menos 2500 anos nasceu, em Lumbini (no atual Nepal), um homem que viria revolucionar o modo de encarar a vida. Filho de um poderoso rei do clã dos Shakyas, o príncipe Sidarta (do páli: "aquele que atinge os objetivos") cresceu na cidade-palácio de Kapilavastu (também no atual Nepal), recebendo sempre os melhores tratamentos, rodeado pelas melhores jóias, as melhores mulheres e a melhor educação que um príncipe poderia ter à época.

Diz a lenda que havia na região um sábio andarilho chamado Asita, que - na ocasião do nascimento do príncipe - previra que este se tornaria um grande rei e dominaria toda Kosala (região onde estava inserido o reino dos Shakyas), ou então se tornaria um grande sábio e seus ensinamentos extender-se-iam por todo o mundo e por todo o tempo. O velho Asita aconselhou ao rei Suddhodana - pai de Sidarta - que, se era da vontade dele que o filho se tornasse um grande imperador e não um sábio religioso, então ele deveria fazer tudo o que estivesse a seu alcance para impedir que o príncipe tivesse contato com qualquer tipo de sofrimento. Por conta disso, reza a lenda, Sidarta cresceu num lugar maravilhoso. Não haviam pessoas doentes, ele não via mortes - nem de animais! Só existiam pessoas novas, belas, e só havia alegria pairando no ar. Sidarta teve mulheres, casou-se com uma prima da nobreza, Yashodara, e teve um filho, Rahula.

Mas, os esforços do rei foram em vão. Nas suas saídas do palácio, Sidarta teve quatro visões que mudariam sua vida: ele viu uma pessoa idosa, uma doente, uma morta e - por último - um monge asceta. Seu fiel amigo e guia de carruagens Channa, quando indagado "o que eram" aquelas pessoas, lhe contou que todos - sem exceção - envelhecem, ficam doentes, e morrem. Sidarta ficou perturbado com isso em, aos 29 anos, decidiu que partiria numa jornada rumo a entender esse mundo - como aquele último personagem que encontrou nas suas caminhadas. Eventualmente, após procurar por vários mestres e praticar o ascetismo ao ponto de ficar tão magro que a pele do abdomem se encontrava com a das costas, Sidarta percebeu que o caminho não era por aí: não adiantaria em nada mutilar seu corpo, pois sem o corpo, como ele seria capaz de compreender a mente? Sidarta é tido como fundador da filosofia do "Caminho do Meio" - um caminho de moderação entre extremos.

Por fim, após 6 anos de práticas intensivas, Sidarta sentou-se sob uma árvore Bodhi e meditou por 49 dias até atingir o chamado estado "Iluminado", pelo que ficou conhecido como "Buda" (do páli: "o iluminado"). O que significa ser iluminado? Bem, isso é assunto pra outros tópicos...

Todo ensinamento do Buda baseia-se no que é chamado de "As Quatro Nobres Verdades":

  1. A Existência do Sofrimento;
  2. A Origem do Sofrimento;
  3. A Cessação do Sofrimento;
  4. O Caminho para a Cessação do Sofrimento.

Bom, dá pra notar que todo ensinamento budista constrói-se em torno do sofrimento né? Parece algo pessimista não é mesmo?

Para o leitor desavisado fica a dica: assim como Jesus, Mahatma Gandhi, George Bush, o Chaves e o Lula, o Buda não falava Português. Sua língua nativa era o Páli - um tipo de língua indo-ariana, como o sânscrito. Em páli, essa palavra que é normalmente substituída por "Sofrimento" é "Dukkha", ou "Duhkha" em sânscrito. Os antigos Arianos, que levaram o Sânscrito e as línguas afins para a Índia, eram um povo nômade que viajava em carroças ou veículos similares puxados por bois ou cavalos. "Dus" é um prefixo que significa "ruim", e "kha" - que significa "céu", "éter" ou "espaço" -, originalmente significava "buraco", mais especificamente um orifício ligado à colocação do eixo de um desses veículos Arianos. Assim, dukkha significava algo como "com o eixo desalinhado", que era algo que levava - obviamente - ao desconforto dos passageiros.

Quando o Buda discorre sobre o sofrimento, sua causa e como encerrá-lo, ele não está falando das dores, do sofrimento físico em si - e sim sobre essa sensação de desequilíbrio. Ele ensina que existe sim um desequilíbrio, que é a raiz do desconforto que muitas vezes sentimos em nossas vidas. E esse desequilíbrio, é - de acordo com a Segunda Nobre Verdade - produto da ignorância (não, não é aquela ignorância que te faz mandar o motorista do Fusca 76 na sua frente ir a lugares turísticos de gosto duvidoso. Essa tem outro nome.), da ignorância das coisas como elas são verdadeiramente. Essa ignorância leva às chamadas Três Raízes Insalutares: avidez, ódio e delusão que, em última análise, conduzem ao desequilíbrio que acarreta no sofrimento.

O caminho que - segundo o Buda - leva à cessação desse desequilíbrio (o Nobre Caminho Óctuplo) envolve um trabalho de desenvolvimento e aperfeiçoamento de três características: sabedoria (prajna), conduta ética/moral (sila), e capacidade de concentração (samadhi); e prescreve oito passos:

  1. Visão correta;
  2. Intenção correta;
  3. Fala correta;
  4. Ação correta;
  5. Modo de vida correto;
  6. Esforço correto;
  7. Atenção plena correta;
  8. Concentração correta.

O modo de ensinar do Buda segue um pouco o modo como os médicos da época tratavam uma doença: faziam o diagnóstico identificando a causa da doença e prescreviam um tratamento para ela. É mais ou menos isso que o Buda faz com o desequilíbrio-sofrimento - analisa a causa e prescreve como combatê-la.

O Buda, o príncipe Sidarta, foi um homem como qualquer um de nós. Ser humano, filho de seres humanos. Não era um Deus, não era alguém de outro mundo. Teve mulheres, teve um filho; tinha medos, angustias, desejos, como qualquer ser humano. Não nasceu de uma virgem, e não foi arrebatado aos céus. Morreu calmamente com 81 anos, após ter milhares de discípulos e deixar um legado histórico incrível que sobrevive até os dias de hoje.

Hoje é celebrado, em vários locais do mundo, o Vesak - uma data criada para comemorar o nascimento, a iluminação e a morte desse grande sábio e pensador asiático. A celebração do Vesak segue um calendário lunar (como era padrão na Ásia até sua ocidentalização e conversão ao calendário gregoriano), e é mais comumente feita entre as comunidades budistas Theravada e algumas escolas Chinesas. No Japão, a celebração do nascimento do Buda é feita durante o Hanamatsuri, no oitavo dia do mês de abril; e sua iluminação é celebrada no princípio de dezembro, quando - particularmente nas escolas Zen budistas - faz-se um retiro (rohatsu sesshin) de meditação em homenagem aos esforços do Buda.

Que possamos adquirir e manter esse espírito de esforço e dedicação do Buda, para o benefício de todos os seres.

Gasshô! :)

1 de mai. de 2010

C.J. 1 - Introdução

"Maldita máquina!" Disse Coulanges pelo quinto dia consecutivo de tentativas em fazer funcionar o micro-robô passa-roupas que havia comprado na semana.

Steve Coulanges era um perdido... Estava num mundo que não compreendia. Tentava se adaptar às novas tecnologias, procurava sempre desvendar os segredos do tal "mundo novo" - título de um livro bem antigo que lera.

Diz-se ser comum uma pessoa idosa não se dar bem com novas idéias, quanto mais tecnologias, contudo, Coulanges não era um velho, nem perto disso. Steve era um rapazote de 19 de anos, extremamente competente e talentoso. Sempre disse para sí mesmo que seria, um dia, um dos maiores especialistas em tecnologia do mundo - só que isso era promessa velha, fazia-a desde os 12 anos, quando tudo começou.

"Desta vez eu vou me adaptar" Repetiu, no dia em que comprou o tal "maldito" robô, a mesma frase que dizia desde que chegou à "Cidade" há dez anos."Eu não entendo" outra das frases comumente ditas horas depois...

O engraçado é que Steve, e ele não sabia, seria um dia muito do que um dia sonhou, entretanto, os sonhos que seriam atingidos eram mais antigos, tão antigos que Coulanges nem lembrava. Esperanças que dividia com seu pai, um pai que há 10 anos não via e cujas ações foram decisivas para este futuro...

O baú das almas

Não veio um anjo torto me pedir pra ser gauche na vida, (como aconteceu com o poeta maior) quando eu nasci.

Nasci na final de uma Copa do Mundo e meu pai quase pula, num grito que deu, do andar em que estava na maternidade, não porque eu tenha nascido é que tinha saído o gol do Brasil e era o do título... Pelo menos foi um bom começo... Já nasci bi-campeão.

Não sei se escrevo as coisas que vejo e sinto, ou se as descrevo. As vezes tenho a sensação de observador apenas, ali na minha frente, um holograma de outra dimensão me dita versos e procuro transcreve-los, como um bom aluno. Depois guardo num baú. Um baú de almas holográficas, que de vez quando solto pra me contarem suas verdades mentirosas ou suas mentiras sérias.

Não aprendi o lado pratico da vida, como, trocar fusível, comprar transformador, rebocar parede, etc. Acho pouco pratico o lado pratico da vida, a não ser pelo fato de que é muito mais fácil cozinhar miojo que feijão, até porque, jamais aprenderia a cozinhar feijão.
As coisas acontecem porque, de alguma forma, precisam acontecer do jeito e no momento que acontecem.
De repente você passa por uma curiosa situação atemporal que o faz pensar que você já esteve neste lugar, nesta mesma cena, com este mesmo clima e mesmas pessoas. Você só não entende porque este instante voltou ou quando foi exatamente que ele ocorreu. Não é assim? Existem algumas explicações que não vem ao caso; o que realmente incomoda é a memória de algo que ainda está pra acontecer. Não há como antecipar o que passou, simplesmente as coisas se acomodam porque as colocamos ali e de uma maneira ou de outra, elas vão se manifestar.

Só sei mesmo é o que acredito. Deus está no controle então, cuidado quando for mudar de canal.

© Dirceu Ramos in “O baú das almas”

veja mais em http://clubedeautores.com.br/book/6443--O_bau_das_almas

Céu azul

O céu azul
vazio como ar:
imenso
como o infinito.

Mas o que é o infinito;
senão a projeção daquilo
que não podemos conceber?
O oceano é infinito
para o peixe que nele habita.
Que mais poderia ele conhecer?

É infinito o Universo?
Deus é eterno?
É ele, da Natureza, o verso?
Ou seria a prosa, a crônica, a narrativa?
Existe Céu ou Inferno?
Só faz sentido uma resposta direta, objetiva:

O céu é azul,
vazio como ar
e imenso
como o infinito.