31 de mar. de 2014

Fins

Novas estações e novas faces,
Mais um começo do ciclo sem fim.
Um novo capítulo de um novo tomo
No mesmo livro de folhas em branco,
Vazias como as flores de cerejeira,
Que renascem as árvores mortas
Ao abraço morno do Sol vernal,
Como paixões que despedaçam
Corações empedrados em longos invernos
Ao esbarrar o Amor, por acaso,
Num tropeço de uma caminhada sem rumo.

E as flores desabrocham e caem;
As folhas em branco são escritas,
E todo livro recebe seu último verso.
Mas a árvore se lembra de cada broto,
Conhece o cheiro de cada pétala;
O escritor conhece cada capítulo,
E cada beijo de cada personagem
(Mesmo os jamais realizados.)
Novas estações e novas faces,
Só mais um começo do ciclo sem fim.
Mas o coração, esse nunca esquece.

26 de mar. de 2014

O Velho



“Estamos no ar”
- Alô você!!! A sua Rádio Terapia está no ar. 66,6 mhz de frequência vibratória pelas veias do seu hardware celular. Eu sou Alter Ego, a sua voz do além dial. Hoje vamos receber uma visita nada especial mas pouco bem-vinda, o coveiro das galáxias. Bom dia Dr. Escaravelho!
- Bom dia Alter, bom dia ouvintes.
- Que boas novas o Doutor nos traz, nesta manhã, nem fria, nem quente.
- Nenhuma Alter, na verdade trago uma carta de demissão.
- É... não entendi doutor Escaravelho. Eu não sou seu patrão... (risos)
- Na verdade é uma carta de demissão como um abaixo assinado. São milhões de assinaturas...
- Como assim? Fizeram um abaixo assinado para o senhor pedir demissão? (risos)
- Não Alter, a humanidade está se demitindo.
- Bomba, bomba, ouvintes!!! Daqui a pouco o Doutor Escaravelho explica. Num oferecimento de “Quimioterapia Kardec, não queremos seus cabelos, só seu espírito”, a Rádio Terapia fará um breve intervalo no seu cosmos e voltaremos com o Doutor Escaravelho, o coveiro das galáxias.
“Fora do ar”
 (nona de Beethoven de fundo) “Capitalização Genoma. Invista seus recursos em genes e concorra mensalmente a uma encarnação nórdica e prospera. Não se preocupe, no final do plano você recebe tudo o que investiu com valores corrigidos. Genoma não é uma aposta, é a resposta”.
(Como é grande o meu amor por você, Roberto Carlos de fundo) “Funerária Vida Nova, jazigos verticais, mobiliados com tudo que seu ente querido vai precisar depois da vida. Temos planos exclusivos para aposentados e pensionistas, descontados diretamente de seus benefícios”
“Estamos no ar”
- Alo você!!! Voltamos com o Doutor Escaravelho, o coveiro das galáxias que estava nos falando sobre... (interrupção)
- Não temos muito tempo, Alter, preciso passar a mensagem que me trouxe aqui. Seu microfone está cortado a partir de agora.
- Você que está me ouvindo e você que não está, (não importa, na verdade) estou aqui para comunicar sua demissão da sua vida, que aliás, você mesmo assinou e certamente nem lembra mais.
- Há milhões de anos, quando você ainda era uma bactéria inóspita, foi combinado que habitaria neste planeta, reproduzindo e transformando seu habitat. Quando já tinha condições de raciocinar, portanto podendo decidir, combinamos que se demitiria da sua existência humana se, por intervenção sua, individual ou coletivamente, o habitat fosse esculhambado, desrespeitado ou estupidamente deteriorado.
- Enfim, isso tudo já aconteceu e está acontecendo novamente. O Velho já encharcou o planeta no grande dilúvio, recomeçamos do zero e não adiantou. Sua natureza, ser humano, é má. Não tem jeito, você é incorrigível.
- Recebi esse memorando ontem, o que na conta Dele é há mil anos, determinando usar a vossa carta de demissão, com um adendo; que eu lesse o memorando no ar, não ele todo mas a parte que fala a vocês. Então, vamos acabar logo com isso, tenho um trabalho absurdo pra fazer. Vamos lá:

“Diga isso aos meus filhos:
Como vocês envelheceram... O que é uma contradição, infelizmente. Tiveram tantas oportunidades... Criaram máquinas perfeitas, extraordinárias. Imitaram-se na expectativa de imitarem seu Criador. Dividiram o espaço que era comum em continentes, países, estados, cidades, vilas, bairros, vilarejos, ruas, casas, cômodos... Tudo isso pra inverterem o que havíamos combinado, ou seja, compartilharem-se. Alguns “iguais”, criaram seitas na esperança de se religarem a Mim. Das seitas criaram dogmas, doutrinas e destas inverteram o princípio básico da comunhão, o “somos todos um” se tornou “somos todos um, pero no mucho”. Diferentes, é isso o que conseguiram se tornar. Diferentes e indiferentes e diziam como lema: Cada um por si e Deus por todos. – “Opa, me coloquem fora disto”, eu vivia dizendo. Vocês nunca prestaram atenção. Nunca me ouviam e sempre tiveram “ouvidos de ouvir”. Paciência é um de meus atributos, Me glorifiquem por isso. Toda sentença tem um ponto final, as minhas reticencias já se esgotaram, apesar dos apelos do meu Filho. Hoje é o dia do Ponto Final. Verdadeiramente voltaremos a ser Um, mas preciso confessar uma coisa, (se é que “precise” qualquer coisa) foi bom ter me experimentado em vocês. Isso mesmo. O tempo todo, em todas as situações que vocês criaram, era Eu me experimentando. Quando inventaram a pólvora, era Eu querendo me divertir, não tinha ideia que a usaria de maneiras tão estupidas, mas também era Eu, experimentando seu mal, que também era Eu, para que houvesse o bem. Não saberia amor senão houvesse ódio. Experimentei-os em vocês. Preciso agradecer por isso. Na escuridão, Eu era luz e vice-versa. Como já disse tantas vezes, apesar de vossa surdes, Eu Sou. E ponto final.”
“Fora do Ar”

Em breve.



Estavam Deus e seu filho esperando o eterno
Choques galácticos, expansões cósmicas, luz
Em todos os momentos, ausentes de sentidos,
Senhores do tempo, comandavam o início e o fim

Chama o Pai "Ó meu Filho cheio de amor fraterno
Venha observar o que o céu infinito reluz"
Responde o Filho altivo tal qual Deus de estudos
"Cá Estou senhor Pai eterno, que desejas de mim?"

"De toda criação há algo que lhe escondi
No tempo eterno e imortal que temos
Tudo é tão rápido que até nós perdemos
Momentos de beleza e tristeza sutis

Em breve minha maior criação surgirá
Tão breve enfim ela irá desabar
Mas mesmo tão curta ela sim haverá
De me dar tanto orgulho de tudo criar

Pois tudo, até agora
É momento de outrora
É reflexo da aurora
Do que está por vir

A partir deste instante
Nada é mais importante
Nada mais significante
Do que vem no horizonte

um segundo só
um momento
e todo um sentimento se faz presente

uma vida só
um ente
e toda eternidade lhe será presente".

E disse Deus:
"Faça-se a música!"
E fez-se deus.






G. T. Ramos (2014)

23 de mar. de 2014

Os Primeiros Esplendores


"A splendid branch issues from the old plum tree;
At the same time, obstructing thorns flourish everywhere."
(Keizan Jokin)*

~~

Das quatro estações do ano, a Primavera é possivelmente a mais feliz. Para nós, brasileiros, as estações podem ir e vir sem nem percebermos - exceto, talvez, quando começa e quando termina o Verão e precisamos adiantar ou atrasar nossos relógios em uma hora. Na maioria do hemisfério norte, contudo, os Invernos têm neve, as Primaveras têm flores, os Verões têm calor insuportável e os Outonos têm ruas abarrotadas de folhas secas.

Em Tokyo, o frio começa em meados de novembro; e pela primeira semana de dezembro, os termômetros já começam a descer abaixo dos 10 ºC. De dezembro até começo de abril, sair pra fora de casa sem casaco é masoquismo, já que as temperaturas flutuam do subzero aos 15, 16 ºC (max) em dias excepcionalmente quentes. Ou seja, passamos cerca de 1/3 do ano enrolados em roupas de frio e sob aquecedores: dá pra imaginar o quão prazeroso é sair para dar uma volta de camiseta, curtir um vento morno e ver as árvores saindo do seu estado hibernal e começando a florir.

Ciclo dos 24 termos solares asiáticos
Anteontem (dia 21 de março), celebrou-se aqui no Japão o "Dia da Primavera" (春分の日, shunbun no hi), um feriado nacional. Ele coincide com o que chamamos de equinócio de primavera (ou vernal) no Ocidente. A palavra equinócio deriva do latim aequinoctium, formada pela aglutinação de aequus (igual) e noctium (de noites), sugerindo o dia em que o número de horas do período diurno é equivalente ao número de horas do período noturno. No calendário ocidental, a primavera começa a partir do dia de equinócio vernal; mas aqui no Japão começa um pouco antes. O calendário tradicional do leste asiático é divido em 24 "termos solares", que marcam as principais mudanças na natureza. O primeiro evento do ano é o risshun (ou lichun, em mandarim), 立春, que significa a entrada da Primavera, e geralmente ocorre pelos primeiros dias de fevereiro, bem próximo do ano novo lunar/Chinês. Este evento é astronomicamente definido a partir do dia em que a longitude solar [1] atinge 315º (o equinócio vernal ocorre quando sua longitude atinge 0º), o que em 2014, por exemplo, ocorreu no dia 4 de fevereiro. Tradicionalmente, simboliza o meio do caminho entre o solstício de inverno e o equinócio vernal e representa o dia mais frio do ano: dali pra frente as temperaturas começam a subir gradualmente, conforme a primavera vai se desenrolando. O período que chamamos de primavera compreende, neste calendário asiático, os primeiros 6 pontos, viz. 立春 (entrada da primavera), 雨水 (água das chuvas [2]), 啓蟄 (acordar dos insetos [3]), 春分 (equinócio vernal), 清明 (clareza e brilho [4]), 穀雨 (chuva dos grãos [5]) e termina na véspera do rikka, 立夏, a entrada do Verão (6 de maio).


Já que falamos em Ásia, o ideograma usado por aqui para denotar a primavera, 春 (haru em japonês, chūn em mandarim), é formado por composição semântico-fonética, do seguinte modo: a forma atual é uma simplificação de 萅, que contém o radical 艸 (grama, folhagem) em cima ( 艹 ) e 日(sol) embaixo e o indicador fonético 屯 (lido zhun em mandarim, e que também significa agrupar, juntar) no meio. Portanto, é um ideograma que sugere o nascimento das folhagens e o ressurgimento do Sol.

Já para nós, que falamos o bom e velho Português, nossa "Primavera" tem uma origem não menos interessante e curiosa! No Latim clássico, as quatro estações eram: veraestās, auctumnus e hibernum. Em Português antigo, essa divisão dera origem às estações como Verão (nossa atual Primavera), Estio (nosso atual Verão), seguidos do Outono e o Inverno. Este trecho de uma das cartas de Gil Vicente [6] ilustra a separação entre Verão e Estio:

"(...) E para que melhor sintam suas pacíficas concordâncias,
todos os movimentos que neste orbe criou,
e os efeitos deles são litigiosos,
e porque não quis que nenhuma cousa tivesse perfeita duração sobre a face da terra,
estabeleceu na ordem do mundo que umas cousas dessem fim às outras,
e que todo o género de cousa tivesse seu contrário,
como vemos que contra a formosura do Verão, 
o fogo do Estio, 
e contra a vaidade humana a esperança da morte,
e contra o formoso parecer as pragas da enfermidade,
e contra a força a velhice,
e contra a privança inveja,
e contra a riqueza, fortuna;
e contra a firmeza dos fortes e altos arvoredos,
a tempestade dos ventos;
fortuna, sorte, azar
e contra os formosos templos e sumptuosos edifícios,
o tremor da terra,
que por muitas vezes em diversas partes tem posto por terra muitos edifícios e cidades,
e por serem acontecimentos que procedem da natureza não foram escritos,
como escreveram todos aqueles que foram por milagre,
como templum pacis de Roma,
que caiu todo subitamente no ponto que a virgem nossa Senhora pariu."   

Pois como foi que o Verão virou Primavera e o Estio virou Verão? Na Roma antiga, o ano começava no mês de março (antes da reforma do calendário em 45 a.C. por Júlio César), junto com a Primavera. Talvez para destacar a celebração da renovação da vida, os primeiros dias da estação eram conhecidos como prīma vera (do plural neutro acusativo de prīmus + ver). Aparentemente, essa nomenclatura acabou sendo adotada ao longo das regiões do vasto império romano e absorvida pelos idiomas derivados do latim. De fato, o termo em Francês reflete esse aspecto de primazia dessa estação, ao chamá-la de printemps, a primeira época. No Português do século XVI, por exemplo, as estações eram Primavera, Verão, Estio, Outono e Inverno, sendo as duas primeiras partes do que hoje reconhecemos como Primavera. O vocábulo latino para primavera, ver, por sua vez, parece ter a mesma raiz do prefixo sânscrito vas-, significando resplandecer, brilhar [7],[8], e há os que digam que é a mesma raíz de verde. Portanto, a Primavera seria a estação dos primeiros esplendores da Natureza; quando ela começa a despertar do estado de hibernação (hibernum) e esbanjar um verde novo, em todo seu esplendor.


  


--
* "Um ramo esplêndido surge da velha ameixeira;
Ao mesmo tempo, espinhos florescem por todo lugar."

Verso composto pelo mestre Keizan ao lecionar sobre a vida do buda Shakyamuni. O nascimento de Shakyamuni é celebrado em 8 de abril, e coincide com o ápice da Primavera. In: Keizan. The record of transmitting the light [Denkoroku], 1300. Trad. de Francis Cook. Wisdom Publications: Boston, 2003. pg. 31.
[1] Vide explicação neste link

[2] Indica a época do ano em que o que chove é água, e não mais neve; e que a neve pode então começar a derreter.

[3] Com o aquecimento da terra, os insetos começam a sair do estado de hibernação.

[4] A Natureza desperta com força, brilho e clareza. É a época em que as flores estão no ápice do florescer, o momento ideal pro hanami.

[5] Os campos de plantação são preparados, e as chuvas de primavera caem para nutrí-los.

[6] Carta que Gil Vicente mandou de Santarém a el-rei dom João, o terceiro do nome, estando sua alteza em Palmela, sobre o tremor da terra que foi a 26 de Janeiro de 1531. Disponível aqui. Acessado em 23 de março de 2014.

[7] Entrada de "Primavera", Dizionario Etimologico Online. Disponível aqui. Acessado em 23 de março de 2014.

[8] Sir Monier Monier-Williams. A Sanskrit-English dictionary etymologically and philologically arranged with special reference to cognate Indo-European languages, Oxford: Clarendon Press, 1898, page 930. Disponível aqui. Acessado em 23 de março de 2014. 

19 de mar. de 2014

AGORA EU SOU UMA ESTRELA



“Agora o braço não é mais o braço erguido num grito de gol. Agora o braço é uma linha, um traço, um rastro espelhado e brilhante. E todas as figuras são assim: desenhos de luz, agrupamentos de pontos, de partículas, um quadro de impulsos, um processamento de sinais. E assim – dizem – recontam a vida. Agora retiram de mim a cobertura da carne, escorrem todo o sangue, afinam os ossos em fios luminosos e aí estou, pelo salão, pelas casas, pelas cidades, parecida comigo. Um rascunho. Um forma nebulosa, feita de luz e sombra. Como uma estrela. Agora eu sou uma estrela!”

(Fernando Faro)

κόσμος

(Via Lactea, vista da Terra)

"Verily at the first Chaos came to be, but next wide-bosomed Earth, the ever-sure foundations of all the deathless ones who hold the peaks of snowy Olympus, and dim Tartarus in the depth of the wide-pathed Earth, and Eros (Love), fairest among the deathless gods, who unnerves the limbs and overcomes the mind and wise counsels of all gods and all men within them. From Chaos came forth Erebus and black Night; but of Night were born Aether and Day, whom she conceived and bare from union in love with Erebus. And Earth first bare starry Heaven, equal to herself, to cover her on every side, and to be an ever-sure abiding-place for the blessed gods. And she brought forth long Hills, graceful haunts of the goddess-Nymphs who dwell amongst the glens of the hills. She bare also the fruitless deep with his raging swell, Pontus, without sweet union of love. But afterwards she lay with Heaven and bare deep-swirling Oceanus, Coeus and Crius and Hyperion and Iapetus, Theia and Rhea, Themis and Mnemosyne and gold-crowned Phoebe and lovely Tethys. After them was born Cronos the wily, youngest and most terrible of her children, and he hated his lusty sire." (Hesíodo) [1]

--

E eis que foi o Caos,
naquilo que ainda não Era.
E, num infinitésimo de segundo,

do Caos fez-se o Cosmos:
fez-se a Ordem majestática,
o fino Equilíbrio entre o Tudo e o Nada.

E foram os primeiros passos, violentos,
do ballet da nova Vida:
O tango compassado dos quarks,
grudando-se como casais em fogo,
devidamente unidos e sacramentados
pelas excêntricas Partículas de Deus.


E pôde o Universo então comungar
e os Deuses puderam surgir,
como movimentos de uma sinfonia

executada por uma orquestra auto-conduzida,
deliciando-se em cada pequena nota,
gozando cada um dos Versos (de muitos versos)

E na Ordem surgiu a Luz,
que viaja, tal caixeiro errante,

por mundos que ainda não São
e por mundos que já Foram,
levando memórias de uma Eternidade
Que jamais compreenderemos.


Pouco a pouco o tango virou bossa
e aos acordes menores da balada doce,
o Verso desabrochou em romance fervente:

quarks e léptons se entrelaçavam,
e a Vida explodia em novas formas,
Bailando e girando, e vibrando e brilhando.

E a bossa virou samba:
as novas Criaturas uniam-se, em êxtase,
em grandes enxames de poeira cósmica
cada qual sambando seu próprio enredo.
Dessa celebração da vida, nasciam,
ejaculadas do seio de Hera, as galáxias.


E desse Carnaval cósmico
nasceram os foliões, os cruzados da Luz
a iluminar e aquecer aquela escuridão fria;
Nasceram as estrelas, e, de sua poeira,

surgiram planetas, asteroides,
e tudo mais de opaco que perambula os Céus.

Surgiram hidrogênio, hélio,
lítio, carbono, ferro, e toda sorte de matéria:
Do fogo ensandecido daqueles foliões,
formou-se cada pedacinho ínfimo,

cada pequena parte que constitui
do grosso vulcão à delicada rosa.

Como respingos do fértil seio de Hera,
desenvolveu-se o Verso, em toda sua riqueza;
do sorriso singelo de um bebê
à ferocidade de uma supernova em exaustão,
somos todos parte de um eterno infinito;
de um eterno infinito que é parte de nós.

--
[1] Hesíodo. Theogonia. Tradução de Hugh G. Evelyn-White (1914). ll. 116-138. Disponível em: http://www.sacred-texts.com/cla/hesiod/theogony.htm. Acessado em 16 de março de 2014. (100 anos!)

13 de mar. de 2014

Razão de existir....

Pouquíssimas pessoas neste belo mundo podem dizer (ou pensar) durante, ou no fim, da vida que podem ir em paz, o mundo ganhou muito com a sua existência.

Desde sempre tenho uma paixão tremenda pela música, ou achava que tinha. Há poucos anos tenho me dedicado cada vez mais à música e a seu estudo. Ouvindo peças cada vez mais complexas e formosas, tentando disseca-las mentalmente, buscando o caminho para a música perfeita.

Comecemos pelo meu maior ídolo da música erudita, Ludwig van Beethoven. O conheci, formalmente, através de sua obra "Ode an die Freude" da sua nona sinfonia, que cantarolava sem saber que era. Quando estudando sua obra, percebi toda sua beleza , passei da "nona" (majestosa e sempre a maior) para a quinta sinfonia "Do Destino" e seus "tan, tan, tan, taaaaan" (como ela é continuamente lembrada...) e depois para seus concertos para piano, especialmente o Adagio do n. 5 "imperador" e sua sonoridade romântica, sua dor escondida. Contudo, depois de todo esse trajeto ainda estava para conhecer a sexta sinfonia e ter quase um ataque cardíaco com sua beleza, especialmente os 2 primeiros movimentos, ambos curtos, mas perfeitos. Ouçam e sintam o que digo:



Como sempre, somos surpreendidos pelo tempo...

Apaixonado pela obra de Chaplin, no cinema, e seu maltrapilho "vagabundo", comecei a conhecer outra face do grande Charles Spencer Chaplin: sua música. Além de grande conhecedor de música, Chaplin também era exímio compositor. Seu "Smile" até hoje é lembrado como uma das maiores composições de todos os tempos. Contudo, devo lembrar de outras duas melodias, mais belas e mais complexas que "Smile":

Uma foi tema de "Limelight (1952)":




Outra foi tema de seu último filme - estrelado por Marlon Brandon e Sophia Loren - "A Countess from Hong Kong", o nome da canção é "This is My Song":



Essa última em especial, me escapou durante tanto tempo que, ao ouvi-la, senti-me no céu dançando pelas nuvens. Que bela, que simples.

Tenho muitos outros exemplos de belas músicas já realizadas: Dvorak e sua sinfonia do novo mundo (segundo movimento é o mais conhecido), Brahms e sua formalidade na Dança Húngara n. 5 (usada por chaplin no filme "O grande ditador"), Claude-Michel Schönberg e seu "Les Miserables", Andrew Lloyd Weber e seu "Fantasma da Ópera", entre outros vários compositores.

Devo citar com maior ênfase mais dois músicos antes de chegar ao objetivo deste texto, eles são Heitor Villa-Lobos e Wolfgang Amadeus Mozart.

O primeiro, de longe, na minha humilde opinião, foi o maior compositor brasileiro de todos os tempos (bem melhor que "rei" global, que, convenhamos, não compôs metade do que diz ter feito). A obra que destaco é pouco conhecida dos brasileiros e é tão bela que ofende saber que seu próprio povo não lhe dê o devido valor: são suas "Bachianas", em especial as de número 2 (conhecida pelo trecho que simula um trem) e 5 (conhecida pela sua cantileña):



OBS: o "trenzinho do caipira" começa 17:40


obra completa


essa versão permite ouvir melhor o som dos "8" Cellos

O segundo, Mozart, é considerado por muitos um dos melhores de todos os tempos. Vou deixar que este Adagio fale por mim:



e também a inacabada lacrimosa do Requiem em D menor:



Pelo poucos exemplos que dei, deixei claro que se tratavam de pessoas com extraordinário senso musical e que seus talentos são e, espero, para sempre serão lembrados. Entretanto, todos possuem uma obra vasta e conhecida de um bom público, todos são razoavelmente fáceis de tropeçar durante nossa curta vida nesta terra, mas existem outros, tão bons quanto esses gênios que nos aparecem se o acaso e a fortuna nos permitem.

A poucos dias conheci um autor cuja obra me derrubou. Parei o que estava fazendo e ouvi, apenas ouvi. Não sou de chorar. Se me machuco se sofro de algum mal físico ou mental, não choro, mas a música... ah a música me faz chorar... e "Adios Nonino" de Astor Piazzolla me fez chorar como eu nem me lembrava mais. Essa obra me fez pensar que às vezes, não é uma quantidade gigantesca de textos, músicas, pinturas de qualidade que nos faz eternos, às vezes basta uma.

A "Gimnopedie" 1 de Erik Satie, bastou para ele ser lembrado. Sua melodia já adaptada para diversos conjuntos sinfônicos, até hoje (tema de novela global) nos faz sentir sua imortalidade.



"Adios Nonino", não foi a única composição de Piazzolla, mas bastou esta para que seja ele eternamente lembrado. Beethoven continuaria eterno se sua única obra fosse a sexta sinfonia que citei? e Mozart? e Villa-Lobos? sou grato a todos eles que viveram neste mundo antes de nós e que tornaram este um lugar melhor, pelo menos pros ouvidos e corações. Com vocês O Tango que motivou todo este texto com o próprio Piazzolla tocando.


Obrigado Piazzolla.

9 de mar. de 2014

Música do futuro.

Admito, com toda a tristeza
Música, toda sua beleza
Morrendo, se vai

Esperando, como sempre
Canto, tentando me guardar
Esperança, de tudo que restar.

Ó Deus-música
Cante em meus ouvidos
Ó Belavoz
Sussurros são bem-vindos


8 de mar. de 2014

Silábico

Tu de to de ta
ta de te de ti
to de ti de tu
te de tu de to
ti de ta de te

tudo de todos de tarde
tarde de tempos de ti
todos de timbre de tudo
tempos de tudo de todos
time de tardes de tempos

ta te ti to tu
tarde tensa, time torto turvo


se não fizer sentido... leia de novo.
se ainda não fizer...


GTR

4 de mar. de 2014

Às vezes...

Eu me pergunto quem foi o 'feladap...' que inventou o relógio....
Será que ele sabia a m.... que ele tava fazendo... deve ter morrido olhando pro relógio, tentando entender por que o 'maledeto' demorava tanto pra passar.... (tipo eu agora...)

Eu me pergunto quem foi o maluco que pensou que dinheiro fosse algo legal pra se inventar.
Pelo menos por culpa dele eu posso jogar MONOPOLY... eu e as .... 2 ou 3 corporações, no máximo, que nos regem....

Eu também me pergunto se FUTEBOL, CARNAVAL e FUNK podem ser mais corrompidos....
Como sou surpreendido...
O samba e o carnaval foram corrompidos pela prisão do sambódromo e da mesmice de tal forma que Villa-lobos e Adoniram Barbosa devem se contorcer de indignação no túmulo...
O Futebol mata mais que o PCC... ou será que devo somar estas mortes como as outras do PCC...
E o FUNK.... ah o FUNK... deixa quieto....  já era! Agora a merda tá feita.


FELIZ CARNAVAL 2014...

Tudo menos "BIanco"...

Chega aquele momento solitário das 01:30 da manhã do último dia de folga do feriado mais complicado de todos, cá nas terras de Cabral... (no qual quase bateram no meu carro 3 vezes em menos de 20 min...!)

Pra não passar em branco, envio minhas lembranças do outro lado do mundo do meu "Ermão" (que ficou tão estressado com estas bandas que foi o mais longe que podia... se tentasse ir mais distante ainda, ficava é mais perto...)

Sem mais espera e parafraseando Chico Buarque:

" Meu caro 'Ermão' me perdoe por favor
  Se não lhe faço uma visita  (...)
  Mas como agora lembrei do computador
  Mando notícias nestas linhas
  Aqui na terra tão jogando FUTEBOL
  Tem muito SAMBA, muito ROUBO e BATIDÃO
  Uns dia FUNK, noutros dias BBBestol (...)
 
  Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
  Muita mutreta pra enganar a INFLAÇÃO
  Que a gente vai levando com REFIS e com a CAIXA
  Sangrando até não dar e a PETROBRAS sair de graça
  Ninguém aguenta ENGANAÇÃO"

Parece que a tradução moderna vem bem pra esse momento 'interessANTA' que a terra de Cabral passa...

FELIZ CARNAVAL 2014


 

1 de mar. de 2014

Bianco

Em branco,
Passaram-se aqueles dias;
E aquelas semanas também
Em branco passaram.
No branco dos dias nublados,
Com seu peso escuro,
E sua radiância ofuscante;
No branco da neve acumulada,
Afofada por pés despreocupados,
Indiferentes àquela beleza rara
Apressados em achar abrigo
E aquecerem-se da Natureza.
Passaram no branco do gohan:
Recém cozido e quente, fumegando
Na branca porcelana made in China.
E na brancura do leite,
Prestes a ser macchiato
Num acalentador cappuccino.
Em branco,
Passaram-se estes últimos dias,
E estas últimas semanas.
Passou o último Inverno.