31 de mai. de 2010

O Corvo e a Escrivaninha

Por que um corvo é como uma escrivaninha,
Se um corvo tem penas e uma escrivaninha não faz ninhos?
Se é impossível escrever em cima de um corvo,
ou tentar ler sinais vendo escrivaninhas voadoras?
Se escrivaninhas não botam ovos,
e bicos de corvos não fazem bons porta-canetas?

Por que um corvo é como uma escrivaninha,
Se um corvo possivelmente comeria todas aquelas
velhas cartas de amor platônico que eu te escrevia?
(coisa que, note, uma escrivaninha jamais ousaria fazer!)

Por que um corvo é como uma escrivaninha,
Se uma escrivaninha não faz o mesmo som daquele grasnar
desafinado que saia da minha boca ao cantar "músicas"
que (eu achava que) escrevia para você?

Por que um corvo é como uma escrivaninha,
Se, em sã consciência, jamais um corvo se permitiria servir
de suporte a uma cabeça pesada de pensamentos
e de pretensos futuros que sequer deram-se o trabalho de ocorrer?

Por que um corvo é como uma escrivaninha,
Se escrivaninhas não morrem como todas emoções,
ou envelhecem como aquelas palavras salvas em blogs antigos,
em corações antigos, em sonhos antigos?

Por que um corvo é como uma escrivaninha?
Porque uma escrivaninha permite ilusões, e um corvo caça;
como a realidade que caça e destrói os sonhos mais incríveis
sonhados às madrugadas nas velhas escrivaninhas rabiscadas.

E o que é a realidade, senão produto dos sonhos?
Por que esse paradoxo irônico da Natureza?
Para que um corvo seja como uma escrivaninha.
Apenas por isso.

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