26 de mar. de 2014

O Velho



“Estamos no ar”
- Alô você!!! A sua Rádio Terapia está no ar. 66,6 mhz de frequência vibratória pelas veias do seu hardware celular. Eu sou Alter Ego, a sua voz do além dial. Hoje vamos receber uma visita nada especial mas pouco bem-vinda, o coveiro das galáxias. Bom dia Dr. Escaravelho!
- Bom dia Alter, bom dia ouvintes.
- Que boas novas o Doutor nos traz, nesta manhã, nem fria, nem quente.
- Nenhuma Alter, na verdade trago uma carta de demissão.
- É... não entendi doutor Escaravelho. Eu não sou seu patrão... (risos)
- Na verdade é uma carta de demissão como um abaixo assinado. São milhões de assinaturas...
- Como assim? Fizeram um abaixo assinado para o senhor pedir demissão? (risos)
- Não Alter, a humanidade está se demitindo.
- Bomba, bomba, ouvintes!!! Daqui a pouco o Doutor Escaravelho explica. Num oferecimento de “Quimioterapia Kardec, não queremos seus cabelos, só seu espírito”, a Rádio Terapia fará um breve intervalo no seu cosmos e voltaremos com o Doutor Escaravelho, o coveiro das galáxias.
“Fora do ar”
 (nona de Beethoven de fundo) “Capitalização Genoma. Invista seus recursos em genes e concorra mensalmente a uma encarnação nórdica e prospera. Não se preocupe, no final do plano você recebe tudo o que investiu com valores corrigidos. Genoma não é uma aposta, é a resposta”.
(Como é grande o meu amor por você, Roberto Carlos de fundo) “Funerária Vida Nova, jazigos verticais, mobiliados com tudo que seu ente querido vai precisar depois da vida. Temos planos exclusivos para aposentados e pensionistas, descontados diretamente de seus benefícios”
“Estamos no ar”
- Alo você!!! Voltamos com o Doutor Escaravelho, o coveiro das galáxias que estava nos falando sobre... (interrupção)
- Não temos muito tempo, Alter, preciso passar a mensagem que me trouxe aqui. Seu microfone está cortado a partir de agora.
- Você que está me ouvindo e você que não está, (não importa, na verdade) estou aqui para comunicar sua demissão da sua vida, que aliás, você mesmo assinou e certamente nem lembra mais.
- Há milhões de anos, quando você ainda era uma bactéria inóspita, foi combinado que habitaria neste planeta, reproduzindo e transformando seu habitat. Quando já tinha condições de raciocinar, portanto podendo decidir, combinamos que se demitiria da sua existência humana se, por intervenção sua, individual ou coletivamente, o habitat fosse esculhambado, desrespeitado ou estupidamente deteriorado.
- Enfim, isso tudo já aconteceu e está acontecendo novamente. O Velho já encharcou o planeta no grande dilúvio, recomeçamos do zero e não adiantou. Sua natureza, ser humano, é má. Não tem jeito, você é incorrigível.
- Recebi esse memorando ontem, o que na conta Dele é há mil anos, determinando usar a vossa carta de demissão, com um adendo; que eu lesse o memorando no ar, não ele todo mas a parte que fala a vocês. Então, vamos acabar logo com isso, tenho um trabalho absurdo pra fazer. Vamos lá:

“Diga isso aos meus filhos:
Como vocês envelheceram... O que é uma contradição, infelizmente. Tiveram tantas oportunidades... Criaram máquinas perfeitas, extraordinárias. Imitaram-se na expectativa de imitarem seu Criador. Dividiram o espaço que era comum em continentes, países, estados, cidades, vilas, bairros, vilarejos, ruas, casas, cômodos... Tudo isso pra inverterem o que havíamos combinado, ou seja, compartilharem-se. Alguns “iguais”, criaram seitas na esperança de se religarem a Mim. Das seitas criaram dogmas, doutrinas e destas inverteram o princípio básico da comunhão, o “somos todos um” se tornou “somos todos um, pero no mucho”. Diferentes, é isso o que conseguiram se tornar. Diferentes e indiferentes e diziam como lema: Cada um por si e Deus por todos. – “Opa, me coloquem fora disto”, eu vivia dizendo. Vocês nunca prestaram atenção. Nunca me ouviam e sempre tiveram “ouvidos de ouvir”. Paciência é um de meus atributos, Me glorifiquem por isso. Toda sentença tem um ponto final, as minhas reticencias já se esgotaram, apesar dos apelos do meu Filho. Hoje é o dia do Ponto Final. Verdadeiramente voltaremos a ser Um, mas preciso confessar uma coisa, (se é que “precise” qualquer coisa) foi bom ter me experimentado em vocês. Isso mesmo. O tempo todo, em todas as situações que vocês criaram, era Eu me experimentando. Quando inventaram a pólvora, era Eu querendo me divertir, não tinha ideia que a usaria de maneiras tão estupidas, mas também era Eu, experimentando seu mal, que também era Eu, para que houvesse o bem. Não saberia amor senão houvesse ódio. Experimentei-os em vocês. Preciso agradecer por isso. Na escuridão, Eu era luz e vice-versa. Como já disse tantas vezes, apesar de vossa surdes, Eu Sou. E ponto final.”
“Fora do Ar”

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